História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

Página 205


Vem em seguida uma avezinha (cujo nome o autor não apresenta) do tamanho e figura do pardal, totalmente preta, mas com a cabeça branca e a cauda com mescla de preto e grisalho. Grita zip, zip. TUIDARA (termo indígena). É uma espécie de coruja; em alemão se chama Schleiereule; em flamengo, "Kerckuyle". Tem a cabeça redonda; nariz levantado coberto de penas; debaixo do nariz, acha-se um bico adunco, branco; os olhos são pretos. Toda a ave tem a figura de um coração, como é pintada, com penazinhas amarelas, um pouco claras, com mescla de um pouco de preto, como se estivessem rodeadas de uma fímbria. As penas de toda esta ave são de uma cor mista de branco, amarelo pálido e grisalho; as asas e a cauda são onduladas. O corpo tem uns ligeiros pontos fuscos. É descrita por Gesner.GUACAGUACU (termo indígena). Gaivota (em português). "Meeuwe" (em flamengo). Ave do tamanho da galinha comum, com o bico reto, longo, grosso, amarelo. A parte superior da cabeça é coberta de penas pretas; assim também a última metade das asas e a cauda. A garganta, o pescoço, o peito, o baixo ventre e o princípio das asas são brancas. Esta ave põe na areia seus ovos, que se assemelham aos da galinha na figura, tamanho e cor; eles são de bom sabor, mas a carne não vale nada.TAPERA (termo indígena). Andorinha (em português), espécie de ave semelhante às nossas andorinhas, do mesmo tamanho e com o vôo semelhante. O bico é curto, um tanto largo e preto; a boca é ampla e pode ser aberta além da região dos olhos, como o "Ibiau" novo; os olhos são elegantes e pretos; as asas, longas e terminam com a cauda, que é um tanto larga; as pernas e os pés são como as nossas. A parte superior da cabeça, o pescoço, o dorso, as asas e a cauda tem penas de cor fusca com mescla de grisalho; os rêmiges das asas e as extremidades da cauda são de cor mais fusca do que as outras partes. Debaixo da garganta e no peito estas são de cor grisalha com mescla de branco; o ventre é branco, bem como a parte sita abaixo da cauda; as pernas e os pés são fuscos.

CAPÍTULO XI Várias espécies de papagaios maiores e menores. Há no Brasil uma grande abundância e variedade de papagaios, chamados AIURU, na língua dos indígenas. Aristóteles lib. IV, Histór. Animal, cap. X, assim escreve: ea qua ova pariunt, an somnient incertum est, manifestum vero ea dormire. Eu afirmo uma e outra coisa com JuL Scaligero no Comentário; o que ele afirma de seu tordo e das aves de rapina, eu afirmo de meu papagaio, que eu chamava Lauro, porque muitas vezes despertando durante a noite, meio sonolento falava. Na mesma obra, lib. VIII, cap. X, escreveu que o papagaio é chamado pelos gregos palavra em grego Os papagaios fazem ninho, nas cavidades das árvores, onde preparam um buraco redondo na parte de fora, e põem dois ou três ovos semelhantes aos da pomba sem ninho algum artificial. Se tocarmos nos ovos, eles não goram, nem o papagaio os abandona. Os filhotes aparecem no meado e fim de junho; acham-se cobertos de penas para tomarem sua liberdade, no fim de julho, e meados de agosto. Os papagaios novos, desde o nasci mento, têm vermes um tanto grosso; um em cada fossa nasal, e no alto da cabeça encontra-se um tubérculo onde se oculta um verme grosso; todos, porém, caem em breve tempo e o lugar cura-se por si. Os tapuias preparam os papagaios com várias cores, depenando os mais novos e pintando a pele com várias cores; estes são chamadas pelos portugueses Papagaios contrafeitos. Nenhum dos papagaios indígenas, à exceção das Curicas, deixa que se lhe toque no corpo com as mãos.A primeira espécie, AIURUCURAU, é elegantíssima. Sobre o bico na cabeça encontra-se um topete de uma elegante cor cerúlea; a garganta, os lados da cabeça e sua parte superior são cobertos de um elegante amarelo, e o tronco de um verde alegre. Nas extremidades das asas, as penas tem uma metade preta, e a outra vermelha, em parte são também cerúleas na extremidade e verdes aqui e ali; em suma, há uma elegante variedade de cores. A cauda é verde, mas quando aberta, tem fímbrias pretas, vermelhas e cerúleas; as pernas e os pés são da cor de cinza; o bico é fusco cinzento; os olhos meio escuros com uma íris áurea; a língua de todos é larga e grossa. Segunda espécie. Semelhante à primeira, com cores um pouco variadas de outra maneira, isto é, no alto da cabeça há um topete amarelo com mescla de branco; sobre os olhos e na garganta domina o amarelo claro; ao redor da parte superior do bico, acha-se uma mancha verde-mar. Terceira espécie. AIURUCURUCA. Tem na cabeça um topete cerúleo com mescla de um pouco de preto e uma mancha amarela no meio do topete. Debaixo dos olhos e na garganta, acha-se uma mancha cerúlea; e a cor verde, no peito, asas e dorso é um pouco mais carregada; nas extremidades das asas e na cauda é mais clara. As extremidades das penas da asa são amarelas e vermelhas com mescla de cor da China. A parte inferior da cauda é verde e amarela; a superior, verde clara; as pernas são azuladas cinzentas; a parte superior do bico é cinzenta, mas preta, nas extremidades; as unhas do pé são pretas.