História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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pretas dos lados. O peito, o baixo ventre, a parte superior e a inferior das pernas, são cobertos de brancas penas, mescladas de preto como escamas. As asas e a cauda são de cor fusca, mesclada de sombreado, e as extremidades finas e brancas. As rêmiges são foscas marchetadas de ondas pretas; nos pés há quatro dedos amarelos com unhas fuscas semilunares. Grita Geb, Geb, como o frango, que perdeu sua mãe. É ave de rapina, que come carne crua; quando se lhe lança uma ave viva ou morta, toma-a com as unhas e depena-a com cuidado; em seguida a dilacera e engole, carne e ossos. Conservei vivo um exemplar por muito tempo, no forte Maurício, junto ao rio S. Francisco. Nota. A figura desta ave não difere muito da do Nycticorax dada por Gesner; não é a dos antigos, mas a chamada ave pescadora junto de Strasburgo e do Reno, somente a divergência está em ter três penas na cabeça.MAGUARI (termo indígena). Ave semelhante à cegonha em figura e tamanho e em parte pela cor. O pescoço mede um pé de comprimento; o bico é teto, agudo, medindo nove dedos de comprimento; as pernas são longas e nuas como as da cegonha; a cauda é curta e nela terminam as asas. O bico, na sua origem, até à metade é amarelado esverdeado e no resto cinzento azulado. Os olhos são pequenos, argênteos, com a pupila preta, possuindo ao redor uma pele cinábria; semelhante a esta acha-se uma outra, junto à origem do bico, ou entre o bico e a garganta, a qual como o Senembi ela deixa cair, quando está furiosa. A cabeça, o pescoço e o tronco são cobertos de penas alvíssimas, sendo um pouco longas as penas, sitas na parte inferior do pescoço. A cauda é branca, mas coberta, na parte superior com algumas penas pretas. As asas são cobertas, na sua origem, de penas brancas mas são pretas junto do dorso, havendo algo de verde, no meio do preto. As pernas bem como os pés, semelhantes aos da cegonha, são vermelhos. Com o bico esta ave crepita como nossa cegonha. A carne serve para se comer.GÜARAUNA (termo indígena). Galinhola aquática do tamanho do Jacu. Seu bico é cilíndrico, um pouco curvado, amarelo, mas escuro na extremidade, tendo o comprimento de quatro dedos e meio; o corpo é do mesmo comprimento. A metade da parte superior das pernas é coberta de penas e mede seis dedos de comprimento; os dedos dos pés são dispostos, como acontece comumente; destes o dedo médio é longo, os outros mais curtos. Esta ave é coberta de penas fuscas bem sombreadas; a cabeça e pescoço é da mesma cor com uns pontos brancos como o Jacú. Sua carne é bem boa; várias vezes a comi.AIAIA (termo indígena). Colherado (termo português). Lepelaer (em flamengo). Ave semelhante, na figura, às da Europa, com diferença de cor; é do tamanho do pato. Seu bico é semelhante a uma colher, largo, branco; o pescoço é longo e os pés largos. Na sua totalidade esta ave é branca, tendo nas asas e no dorso algo de encarnado claro; sua carne serve para se comer; várias vezes a comi. É encontrada freqüentemente junto ao rio S. Francisco e às vezes em outros lugares padulosos.PICUIPINIMA (termo indígena). Espécie de pomba silvestre, um pouco maior do que a cotovia. Seu bico é escuro como o da pomba; os olhos pretos, com a íris cor de ouro. A cabeça, a parte superior e os lados do pescoço, o dorso e as asas possuem penas cinzentas escuras ou lívidas com os bordos escuros, semilunares.As penas mais longas das asas ou rêmiges, que aparecem no vôo, são de cor ruiva, um pouco escuras de um lado e nas extremidades. A cauda é um tanto longa e consta de penas cinzento escuras; sendo algumas pretas, com a metade exterior branca; o ventre tem penas brancas, com orlas escuras semilunares; as pernas e os pés são esbranquiçados como os das pombas. A carne é boa e pingue.PICACUROBA (termo indígena). É uma certa espécie de pomba silvestre de cor cinzenta, com mescla de ruivo; pernas e pés vermelhos.