História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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Nota. Este peixe é descrito por Aldrovandro, lib. III, cap. XXII, com o título de Remora e dá uma imagem do Imperato e a sua, semelhante à imagem do nosso Autor.CUREM A (termo indígena), espécie de Tainha grande e grossa. Peixe marinho, que chega a medir dois pés de comprimento, tendo o corpo oblongo, quase cilíndrico como a Truta fluvial, grosso e muito pingue. A cabeça termina em cone obtuso, achatado e largo; na parte superior é dura e coberta de duras escamas. A boca é pequena, em proporção ao tamanho do corpo, parabólica, com o lábio superior bem visível e mole; o inferior triangular e obtuso se encosta ao precedente, sendo, porém, um pouco mais curto; é desguarnecido de dentes. Seus olhos são grandes, redondos, colocados na frente, pretos com um círculo argênteo; sobre a boca há dois orifícios, como narinas. As guelras são semilunares, não amplas; as nadadeiras são sete (a oitava serve de cauda, a qual termina em dois chifres) a saber: duas, atrás das guelras; duas triangulares, "unidas, no baixo ventre, nas proximidades das partes posteriores; uma, pequena, no alto do dorso, guarnecida de três espinhas durazinhas; depois do ânus, uma bicórnea e uma oposta a esta, no dorso, quase do mesmo tamanho. Este peixe é coberto de escamas grandes, como escudos, planas. A cor do peixe, no alto da cabeça, dorso e metade dos lados é cinzenta escura, com um certo lustro verde; o resto dos lados, o ventre e a parte inferior da cabeça é de cor argêntea brilhante, bem como as nadadeiras ventrais, ao passo que as outras com a cauda são da mesma cor do dorso. Este peixe é muito pingue e pode ser comido assado ou cozido sem óleo ou manteiga. Conserva-se grande quantidade dele salgado e seco ao calor do sol. Costuma ser também salgado e conservado na salmoura; a melhor parte dele é o ventre.PARATI (termo indígena). Tainha (em português). Harder (termo flamengo). Este peixe chega a medir um pé de comprimento, tendo a figura do corpo como a Curema, a qual se assemelha em tudo, menos no comprimento e em ter um círculo áureo, ao redor dos olhos. Grande cópia dele é salgada, seca ao calor do sol é conservado. Sua carne é um pouco seca e derrama uma banha amarela, quando submetido à ação do fogo. Costuma ser apanhado em redes, como a Curema. Saltam das redes causando um belo espetáculo, quando são puxadas; quando há calmaria saltam das águas, em grande número.A R A M A C A (termo indígena). Lingoada e vulgarmente Cubricunha (termo português). Este peixe é uma espécie do Solea (linguado) com o corpo achatado e com a figura do que os belgas chamam Tonge. Sua boca, guarnecida de dentinhos agudos, é privada de língua; seus olhos são dois de um lado (onde a cor é de pedra) e do outro lado não há nenhum, tendo o tamanho de um grão de ervilha. Um dos olhos se acha de um lado posterior da boca; o outro, em cima, tendendo para a parte posterior; a pupila é lunulada, cristalina, de cor verde lustrosa. Suas guelras são bem amplas de cada lado, atrás das guelras, há uma nadadeira do comprimento de dois dedos, estreita, terminando em tênue pêlo; junto da extremidade das guelras, na parte ínfima do corpo, encontram-se duas pequenas nadadeiras unidas. Por todo o corpo, em cima e em baixo, se estende até à cauda uma nadadeira, no sentido longitudinal, sendo tênue, da largura de meio dedo apenas; a cauda quase quadrada é constituída por uma tênue nadadeira. Este peixe é coberto de pequenas escamas, e, em todo o lado esquerdo, onde se acham os olhos, é de cor de pedra; do lado direito, é branco. Vive nas areias do mar; serve para se comer, sendo bom o seu sabor. TUBARÃO. Espécie menor. Gruyshaye (em flamengo). Assemelha-se por causa da figura ao maior com a diferença de ter a cabeça triangular, ou como geralmente se pinta o coração. Os olhos, colocados aos lados da cabeça, são pequenos; pequena também é a boca e de forma triangular, colocada muito em baixo, dotada de uma tríplice ordem de dentes. Por ter a boca muito apertada, não pode fazer mal. A carne é melhor do que a do maior. Figura de Pirametara que foi omitida no cap. VIII; vide página 156.

[página 182] CRUSTÁCEOSCAPÍTULO XIX Guaja Apara. Caranguejo grande e várias outras espécies de Caranguejos Guaja APARA (termo indígena). A figura do corpo é semelhante á uma lua, dividida em duas partes, tendo três dedos de largura e dois e meio de comprido (ainda que se encontrem maiores). Sua concha, como disse, é lunulada de um e outro lado, dividida na parte posterior, terminando em ponta. A parte anterior da concha, além da metade é de cor parda carregada e marchetada de manchas amarelas claras, como se constasse só de pontinhos, tendo no centro uma mancha parda; a parte posterior é de cor amarela clara com estrias escuras, no sentido longitudinal. Os pés são oito; cada qual arredondado, formado de quatro juntas, de cor amarela clara; os braços são dois, tendo cada um dois dedos e meio de comprimento e dedo e meio de largura; são guarnecidos de uma pequena tenaz, com a qual não pode agarrar tão estreitamente, como outros caranguejos. Cada braço é armado em cima e cheio de dentes como a crista do galo, de sorte que, quando está vivo os dispõe, aplicando-os ao corpo de sorte que formam umas como cristas de galo aplicadas mutuamente. As tenazes representam uma crista de galo e o braço, um bico de galo com a crista. Os braços são de cor amarela clara, marchetados de manchas e quando nada, expele água pela boca, como se fosse uma fonte. Gesner chama-o galo marinho e o considera como o caranguejo de Heraclio do qual fala Bellonio.GUAJA. Outra espécie. O corpo redondo, um pouco alongado, iguala no tamanho à noz com a casca; tem oito pés de caranguejo. Os braços são dois, medindo cada um dois dedos e meio de comprimento, porém são finos; na extremidade do corpo, acham-se três aguilhões obtusos e os olhos muito pequenos. A cor do tronco dos braços e pés é branca, mas a casca do dorso é marchetada de manchas pardas maiores na parte mais elevada e menores dos lados. Os braços são marchetados de umas pequenas manchas purpúreas avermelhadas; os pés são brancos e bem assim o ventre.GUAJA. Outra espécie. Este raramente se apanha. O corpo é de forma de elipse, medindo três dedos de largura e outros tantos ou um pouco menos de comprimento; ele é coberto de uma concha, em forma de elipse, provida de muitos cornichos e na parte superior acham-se umas depressões; os olhos são pequenos; de cada lado, há quatro pés com quatro juntas. As pernas são um tanto cabeludas, tendo na extremidade uma unha preta com a figura de um cornicho.O comprimento de cada braço com as tenazes é de três dedos e a grossura de um dedo humano, sendo o comprimento da tenaz, que é bem grossa, de dedo e meio.As extremidades da tenaz medem um pouco mais de dedo e meio; são curvadas como bico e com dentes voltados para fora, como se fossem dentes humanos e entre si tão bem unidas como se alguém fechasse um bico guarnecido de dentes; no meio de um dos lados da tenaz, que se move separadamente, há um dente branco.