CAPÍTULO XVII Carana iba. Copaíba. Ibixuma. Coapoiba. Buripicaiba . I biruba. Maratatabiba. CARANA IBA e ANANACHICARIRI (termos indígenas). Árvore da grandeza e altura da tamareira, de madeira dura, vermelha ou escura, composta de nervos grossos por dentro, que não têm utilidade alguma. A casca externamente é griséia, tendo uma cartilagem escamosa desde a terra até uma certa altura; estas escamas são dispostas em forma de caracol; a princípio são longas; em seguida, tornam-se curtas; finalmente caem a começar de cima, porquanto as árvores mais velhas têm a metade superior do caule glabra, como o coqueiro, e só a inferior escamosa. Essas escamas são restos de râmulos, que caem, elevando-se a árvore, porquanto, nascendo os novos que ficam na parte superior, caem os inferiores, que deixam estes restos escamosos. Esta árvore estende para cima seus ramos, formando uma copa; estende também outros para baixo e para os lados como a tamareira, tendo, porém, muito mais elegante aspecto. Cada ramo mede dois ou três. pés de comprido; é chato, agudo de um e outro lado; guarnecido de duros espinhos pretos, aparentando um palito. Na extremidade de cada ramo, se acha uma folha redonda, dotada de pregas como um guarda-chuva de mulher (gallis parasol), de cor verde; da extremidade até quase o meio é dividida em muitas outras folhas carinadas, semelhantes às folhas da tamareira; cada uma divisão das folhas mede dois pés de comprido. Entre os ramos folíferos, brotam outras mais longas, que medem quatro, cinco ou seis pés de comprido, que por sua vez se dividem em muitos outros ramos e râmulos alternados, cobertos de uma lanugem alvacenta; procedem de uma pequena bainha; nos mesmos se acham flósculos amarelos-pálidos, sem pedículos, compostos de três folhas. Depois destas flores vêm os frutos, do formato e tamanho da azeitona; são verdes, amargos, não comestíveis, nem úteis. Esta árvore cortada nunca mais renasce do caule; tardiamente cresce e exige longo tempo para se tornar grande. As folhas servem para cobrir choupanas e para o fabrico de cestos; com a madeira fazem-se cercados para se prenderem ovelhas e animais de carga; os portugueses os denominam Curraes. Nota. Pelo nome poder-se-ia suspeitar que esta é a árvore, que produz a resina, importada da América para a Europa em grande escala, tendo o nome de carana. Não o é porém, visto que a descrição de Fr. Ximenes assim diz: Tlahuililocan (produz a resina denominada carana pelos espanhóis). É uma árvore grande, de tronco liso, vermelho, lustroso e odorífero; tem folhas semelhantes às da oliveira, decussadas ou dispostas em cruz; é acre, mordaz e um pouco adstringente. A resina que segrega, chama-se Caranna e tem as mesmas propriedades que a tecomaaca e até maiores, embora não seja tão usada. O uso interno do pó do tronco ou da casca fortifica o coração e o ventre; dissipa a flatulência; corrige o desarranjo frio, cura doenças uterinas. A casca macerada nágua é útil para o coração; tomada com cacau, faz bem ao peito e coração; desta resina prepara-se um ceroto contra várias dores. Seu óleo é muito apreciado pelos americanos, contra feridas e hemorróidas; é preparado da seguinte maneira: Terebentina, viu onças; óleo de Liquidamber (?), III onças; Tecomaaca, Carana, Bálsamo an.II onças. Pó de mastique, mirra, aloés, incenso (Thuris), sangue de dragão (Sanguinária Draco), sarcocola an, dracma e meia. Reduza-se tudo a pó fino, misture-se com a resina líquida e incorpore-se, conforme as regras. Consulte-se Monardes, cap. III. Observei que esta resina aplicada às fontes, em forma de emplastro, constitue remédio enérgico contra dores de dente. C0PAIBA (termo indígena). Árvore de madeira vermelha, tingida de um vermelhão carregado, tendo a solidez da faia; dela se tiram achas para vários usos. Produz esta árvore folhas arredondadas ou até ovais; de quatro ou cinco dedos de comprido, de dois ou dois e meio na sua maior largura; estas se acham fixadas a pedículos de um dedo de comprido, grossos, têm um nervo grosso, no sentido longitudinal, e muitas veias transversais, salientes, na parte de trás. Dá uma flor medíocre, composta de cinco folhas arredondadas; seu fruto é uma silíqua arredondada, do tamanho de um dedo, fusca; apertada com os dedos facilmente se abre e
História natural do Brasil.
Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado