História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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IBABIRABA (termo indígena). Árvore de caule contorcido, casca cinzenta, folhas verdes claras (estas têm muitas, costas e são quase rugosas); estas folhas medem cerca de três dedos de comprido e são diretamente opostas. Trituradas com os dedos exalam um aroma como da Majorana, cora mescla de Rosmarino;. entre elas se acham esparsos pedículos do comprimento de quase dois dedos, divididos em cima em três partes, como em cruz. Cada um traz três flores do tamanho e formato da rosa silvestre, compostas de cinco folhas brancas, de agradabilíssimo aroma, como o de nossas rosas. Depois vem o fruto redondo, do tamanho da cereja, aderente como a pêra a um pedículo, este fruto é de cor escura por fora com um umbigo quinquefoliado, de cor avermelhada, com uns restos de uma flor morta. Contém uma polpa mole, pálida, com uns núcleos encarnados, arredondados, chatos, um pouco moles; são comidos juntos com a polpa. O sabor deste fruto é doce, tendo algo de resinoso. As folhas e as flores, com Câmara, são utilíssimas para loção dos pés, quando há dor de cabeça. Floresce em janeiro e fevereiro; o fruto fica maduro em abril ou maio.MUIVA (termo indígena). Árvore do tamanho medíocre, com folhas elegantes, opostas aos pares, semelhantes às flores de malabatro, quanto à consistência, figura e veias, isto é, três nervos mais grossos correm ao longo da folha e além disso uma mais fina de cada lado, perfazendo-se assim o número de cinco; correm transversalmente muitas veias paralelas. As folhas são brancas na face inferior e lanuginosas; na frente, são verdes saturadas, muito lustrosas; os râmulos novos são alvacentos e moles. As folhas secas tornam-se pretas, onde dominava o verde, de belo aspecto. Produz esta planta flores (o autor não as descreve) às quais segue o fruto, que é redondo, quase do tamanho da pêra moscatel, aderente a um pedículo como a pêra; é coberto de uma cutis mole, que toma a cor vermelha purpúrea, quando o fruto está maduro; encontrando-se nele um umbigo quinquefólio. Este fruto possui uma polpa da consistência de mel grosso, de cor pálida ou branca, cheia de uns bagos mínimos; é de agradável sabor. O fruto,

[ pagina 118]quando está maduro, é mole; salta dele a polpa, quando é espremido com os dedos. Os indígenas não gostam de comer este fruto, mas o deixam para as aves.MURECI (termo indígena). Árvore de casca cinzenta e madeira frágil, produz folhas, geralmente congestas em fronde; são longas e, na ponta, mais largas do que no início; não são dentadas; assemelham-se muito às folhas de verbascum quanto à cor e lanugem; têm um nervo no sentido longitudinal e veias oblíquas diretamente opostas; quando mais novas, as folhas são inteiramente hirsutas e vermelhas.Produz esta árvore flósculos congestos em espigas, lúteas, em pedículos, compostas de cinco olíolos, curvados para baixo, como que orbiculares, do formato de esgravator de ouvido com cabo (manúbrio) vermelho; no meio da flor, se encontram muitos estames amarelos alvacentos. O fruto desta árvore é constituído por bagos, da figura e tamanho dos frutos da roseira brava, que são comidos.GUAPEREIBA (termo indígena). Mangue verdadeiro, (termo português). Árvore que tem uma madeira pesada, sólida e casca escura; ramos e folhas opostas. Estas são grossas com um nervo no sentido longitudinal e muitas veias transversais; são verdes-alegres e igualam em tamanho as folhas da pereira. Produz esta árvore muitos flósculos em cálices um tanto longos; são lúteas esverdeadas.O fruto (o autor não o descreve) caindo torna-se o alimento dos caranguejos terrestres, que vivem sob estas árvores. Esta árvore lança numerosíssimas raízes.

CAPÍTULO XI Guirapariba. Tataiiba. Ibacurú pari. Ibera puteruna. Utii Jito. Umari. GUIRAPARlBA OU URUPARIBA (termo indígena). Pao d'arco (em português). Árvore alta, alegre, de grossura medíocre, de folhas congestas em frondes constituídas por quatro cinco ou seis pedículos de um ou dois dedos de comprido, achando-se em cada um cinco folhas, cada uma fixa a seu pedículo, todas unidas (raramente são só três ou quatro). Estas folhas são de desigual tamanho, oblongas, verdes carregadas, lustrosas; dão ao tacto membranáceas, com um nervo no sentido longitudinal e veias oblíquas. No mês de dezembro, a árvore se acha sem folhas, que perdeu no começo do estio.Esta árvore dá flores copiosíssimas, amarelas, grandes, medindo três ou mais dedos de comprido, divididas em cima, como que em cinco folhas; são inodoras e sem estames. Quando está florida apresenta-se totalmente amarela