História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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CAPÍTULO X Ibapurunga. Ibipitanga. Visqueiro, ibabiraba. Muiva. Mureci. Guapereiba. IBAPURUNGA (termo indígena). Árvore de casca e madeira como o sabugueiro; dá folhas em pedículos do comprimento de dois dedos, que se opõem dois a dois. Em cada um, se acham três folhas justapostas como feijões (na extremidade dos ramos, as folhas formam fronde, unidas em grupos de três) estas folhas são verdes, na frente e lustrosas no avesso, domina a cor branca com mescla de verde; na frente são pilosas; atrás são antes hirsutas, salientando-se nelas um nervo e veias. Junto de cada pedículo, das folhas apresenta-se um outro, que dá flores compostas de cinco folhas; (o autor não indica a cor). Depois das flores, observam-se, em cada pedículo longo, três, quatro ou cinco frutos unidos do tamanho do fruto da Uva spina ou da avelã; são redondos, de cor verde, quando não se acham maduros, lustrosos e salpicados de umas manchas brancas; maduros tem uma cor purpúrea escura, quase preta, com pontinhos brancos esparsos.Tirada a casca, se encontra uma polpa, que na superfície é purpúrea ou escura; por dentro branca; no centro se acha um caroço duro do tamanho e formato de uma amêndoa com três núcleos brancos, pequenos. Comem-se estes frutos, tirada a casca; são de sabor doce, não muito manifesto; amadurecem em fevereiro.IBIPITANGA (Cerasus brasiliana). Árvore da figura da nossa cerejeira ácida. Sua casca é alvacenta e o tronco quase contorcido se reparte em muitos ramos. Tem esta árvore folhas lisas, verdes carregadas na frente, e verdes claras atrás; sempre opostas duas a duas. Onde brotam as folhas, acham-se flores, em pedículos como de cerejas; essas flores são brancas, compostas de quatro folhas e muitos estames. Em seguida vem o fruto avermelhado, do tamanho do verticilo ou baga da amora, redondo, profundamente estriado em oito linhas como a bola com que as mulheres seguram as bolsas. Num umbigo se acham quatro estames verdes de mínimos folíolos; o fruto é coberto de uma cutícula avermelhada como a da cereja; possui também uma polpa a vermelhada, suculenta, de sabor quente e um pouco amargo, participante de capsico; dentro se acha colocado um caroço redondo, um pouco chato, alvacento, não duro; nesse caroço se encontra um núcleo alvacento, de gosto amargo; este caroço não se distingue do caroço da massaranduba.VISQUEIRO (termo português). Árvore altíssima, que estende seus ramos amplamente; casca griséia ou avermelhada; nos ramos alternadamente colocados, apresenta outros, uns direta outros alternadamente opostos; a eles se acham apensas pequenas folhas, semelhantes às da erva viva de primeira espécie; de cor verde alegre. Produz esta árvore flores (o autor não as descreve); possui um fruto dotado de um longo talo. Esta árvore fornece abundante resina mole, viscosa, inodora, da cor do pixe; dela fazem uso para apanhar pássaros, impregnando com ela uma vara; do mesmo modo que empregamos o visgo; deve-se, porém, evitar os raios do sol, porque a solidificam. Existem duas espécies desta árvore a mansa e a brava.