História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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sementes) se acham aderentes por meio de filamentos finíssimos. A outra espécie desta árvore, cujo fruto se chama araca-miri, foi acima descrita, entre os arbustos.GONANDIMA (termo indígena). É uma árvore alta e grande, em parte semelhante a sorbus aucuparia, com o caule dividido em muitos galhos. O tronco cortado deita um suco lúteo, que depois espontaneamente endurece, frágil como o pixe, sem cheiro nem emprego, que eu saiba, entre os habitantes do país. Como esta árvore prefere as margens dos rios, tem muitas raízes das quais umas se adiantam tortuosamente sobre as águas; tem folhas opostas, estreitas, acuminadas, sólidas, lisas, verdes, lustrosas. As flores são numerosas, em forma de umbela, assim se originam: primeiramente, em pedículo vermelhos-carregados medindo meio dedo ou mais de comprido, nascem dezessete, dezoito ou vinte botões em umbela, constando de folíolos complicados, de forma quase oval e tamanho das de Prunus silvestris, elegantemente quase divididas, no sentido longitudinal, por cinco linhas vermelhas-carregadas. Depois se abrem em flor de cinco folhas de cor vermelha elegantíssima, possuindo cinco folhas côncavas ou semilunares, curvadas para fora; no meio, se encontra um estame vermelho saturado, da figura do goivero aromático (Caryophyllus aromaticus), ao qual se acha sobreposto uma estrelinha quinqüangular, de cor vermelha. Não encontrei, no autor, a descrição do fruto desta árvore. CAPÍTULO VIII Aninga iba. Arariba. Mucuitaiba. Tamarindi. Ivaumba. ANINGA IBA (termo indígena). Pequeno arbusto, que cresce até à altura de cinco ou seis pés, com um único caule de casca cinzenta como o da nogueira (Juglans). Produz, em cima,sete, oito, dez ou mais folhas grandes, com nervo e veias salientes do formato da Sagittalis maior; cada folha se acha fixa a um pedículo suculento, da grossura do dedo mínimo, do comprimento de pé e meio, tendo, no meio, uma saliência como um chifre.Nasce no alto, entre as folhas, um "Julus" (é seu fruto) formado de muitos outros quase quadrados; come-se este fruto, em caso de necessidade. Produz uma única flor; grande, formada de uma só folha carinada, de cor amarela-pálida; no meio, se acha um estame grosso, amarelo; o fruto é do tamanho de um ovo de avestruz ou maior e do mesmo formato. Da madeira verde desta árvore fabricam os indígenas Jangadas, isto é, barcas para a travessia dos rios. Vejam se outras informações no comentário de Pios. ARARIBA (termo indígena). Árvore de casca cinzenta, branca por dentro como o freixo; esta casca fervida n'água torna-se vermelha e serve para tingir. Nada mais encontrei observado pelo autor acerca desta árvore. MUCUITAIBA e MOCITAIBA (termo indígena). Pao Santo (em português). Árvore, que tem a figura de um grande carvalho ou pereira silvestre, com a casca cinzenta, glabra e folhas semelhantes às de nossa pereira. Das flores (o autor não as descreve); seu tronco é de cor amarela clara; o meio é vermelho escuro; é ótimo e duríssimo. Na sumidade desta árvore e nas pontas dos seus ramos, nasce uma outra planta do comprimento de um palmo, que se apóia em radículas e numa raiz um pouco mais grossa; nessa se acham em ordem oito, nove ou dez glóbulos amarelos a modo de myrobalano,