a fêmea, não é tão comum; acha-se só nos quintais. O macho cresce até à altura de vinte e mais pés, medindo de grossura cerca de dois pés; sua casca e cinzenta, bem lisa, revalizando-se com a nogueira; é um tanto vermelha no cimo, onde as folhas a rodeiam. Estas folhas brotam em torno do caule; mas, da terra até à metade da altura, logo são arrancadas, nas árvores mais novas; a outra metade fica coberta de folhas até o cimo.Cada folha insere-se em seu pedículo redondo, côncavo, avermelhado, bem grosso, procedendo do tronco quase em linha reta, inclinando-se um pouco para cima ou para baixo, tendo o comprimento de um, dois ou dois e meio pés.A folha adere quase no centro ao pedículo; é orbicular, da largura de um pé, mas repartida em seis ou sete lacínias; cada lacínia por sua vez tem sete decotes; tornando-se assim elegante, de cor verde alegre. Em pedículos semelhantes nasce a flor, isto é, cada pedículo maior se divide em vários râmulos, nos quais se inserem muitas flores alongadas fixadas a menores pedículos; são elas constituídas por cinco folhas curvas, de cor amarela pálida, como se fossem feitas de cera, achando-se, no meio, um estame amarelo pálido. A flor é inodora e cai, raro sucedendo-lhe fruto, a não ser que a árvore seja transplantada e tenha dois a três anos de idade. É falso que o mamoeiro macho não dê fruto ou que a fêmea não o dá, a não ser que se ache perto o macho; o contrário me ensinou a repetida experiência. O fruto do macho, quando nasce, fica pendente (inclinando-se para baixo) do pedículo longo; na figura semelhante ao do fruto da fêmea; às vezes é menor e é estriado exteriormente como o melão isto é, tem cinco estrias, no sentido longitudinal, e cinco menos profundas alternadas, aparentando a bolsa, que as mulheres trazem, em Misnia. Dentro tem sementes e polpa como a fêmea, mas esta polpa não é tão amarela e boa. Os frutos verdes feridos segregam um suco lácteo; a madeira da árvore é frágil e mole; acha-se impregnada do mesmo suco leitoso, de gosto desagradável e amargo. Mamaoeira fêmea assemelha-se ao macho, quanto ao caule e folhas, mas são um poucomaiores; como também os pedículos das folhas não são vermelhos, mas verdes. Produz flores não em longos pedículos, mas aderentes ao tronco, onde ficam pregados os pedículos das folhas. A flor iguala em tamanho à flor de gladiolus; é composta de cinco folhas amarelas, medindo mais de dois dedos de comprido, e apenas um terço de dedo de longo, à semelhança de uma lígula estreita; são contorcidas para baixo, como se fossem feitas de cera; no meio se acha um estame oval, amarelo pálido, do tamanho de um caroço de ameixa; nele se acha assentada uma bela coroa amarela, de figura quase semelhante ao gênero de cogumelos denominados Zei-genbart. A flor tem agradável aroma como o Lilium convallium, porém mais fraco; do meio de cada flor brota o fruto; as folhas da flor não caem antes que o fruto tenha o tamanho de uma noz, permanecendo, por certo tempo, o estame da flor, no umbigo do fruto. Os frutos nascidos junto da origem dos pedículos das folhas aparentam mamas, donde lhe veio o nome português; adquirem o tamanho do marmelo ou do melão comum, ao qual se assemelham, quanto à figura. Este fruto, quando não está maduro, tem a cor verde e ferido segrega um leite; maduro torna-se amarelo com uma polpa lútea, do mesmo modo que os melões; separando-se a casca e dividindo-se este fruto, encontram-se, no meio, abundantes grãos, isto é, um só fruto tem cento e vinte ou cento trinta, ou mais. Estes grãos tem figura oval; são do tamanho do coriandro, com a superfície rugosa, escura e um núcleo branco; têm o sabor do nosso Nasturtium aquático; são envolvidos numa película tênue, lustrosa, que deve ser tirada,
História natural do Brasil.
Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado