História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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linha branca; no meio da flor, se encontram alguns estames amarelados. Depois da flor, vem o fruto, do tamanho e formato da azeitona; da cor da romã, tendo dentro uma polpa odorífera, como é a resina da árvore. A casca ferida numa noite produz resina cheirosíssima como o Anethum novo, cortado; esta resina pode ser colhida depois; em português se denomina, Almecegam, isto é, Mastichen. Apertando-se o exterior da casca com a mão, sem cortá-la, logo se exala um aroma forte; a resina tem a consistência do maná; é de cor verde pálida amarelada e facilmente pode ser manuseada. É excelente para feridas da cabeça e tem o mesmo emprego da goma Elemi. Nota. Esta árvore é muito semelhante à que descreve Fr. Ximenes. Huitzzilxochitl, diz, que outros denominam Anetlinan, é uma árvore medíocre, semelhante a que produz o Liquidambar. Tem o tronco liso e reto, verde carregado, no exterior; branco, no interior, frondes dentadas e agudas, semelhantes ao basílico; encontram-se flósculos pálidos de orla amarelada, semelhantes ao Anethum, no cheiro e gosto, dotadas das mesmas propriedades, de maior eficácia e um tanto adstringentes. Nasce, nos lugares quentes de Cuernavaca, de uns ramúsculos lançados à terra, com fácil propagação. É quente e seca quase no terceiro grau; suas folhas socadas e empregadas em forma de emplastro curam a rigidez e frio das febres. O cozimento das cascas provoca a urina e suor; destrói as opilações; cura a febre quartã; desperta as menstruações; corrobora o coração; dissolve tumores e postemas; elimina as cruezas; ajuda o ventre; o vapor do cozimento cura picadas de escorpiões. Desta árvore exsuda uma resina (ou goma) aromática, diversa da que emana da árvore, que nasce na Flórida; esta tem cheiro de funcho (Foeniculum); é empregada na Espanha com a denominação de sassafrás. Estas coisas diz aquele autor. Esta resina é importada da Espanha, em grande quantidade, é colhida no Brasil, tem agradável aroma.IBIRA (termo indígena). É uma árvore que cresce com o formato da Betula, tendo a cascafusca, marchetada de pontinhos brancos; sua madeira é mole e a casca finíssima. Nos ramos, se encontram râmulos alternados e nove folhas opostas, do comprimento de cerca de três dedos, estreitas, acuminadas, semelhantes às folhas do salgueiro, verdes carregadas, na frente; glabras, lustrosas; atrás são cinzentas, cobertas de pêlos moles cinzentos, quase lanuginosas; elas se inclinam para baixo, fixas à árvore. Produz essa árvore flores alvas, compostas de seis folhas oblongas, cheirosas, em número de duas, junto de cada par de folhas. Seu fruto é oval, do tamanho da avelã; de sabor aromático e acre, podendo ser usado como pimenta seco e reduzido a pó.Tem uma grande força aromática; não é tão acre como a pimenta. A casca separada da árvore serve para corda; é muito flexível; da mesma se fabricam estopins necessários para as explosões.Quando se tira, é branca; separando-se o fusco externo torna-se avermelhado, num quarto de hora. Floresce em fevereiro. Nota. Esta árvore parece a da Nova Espanha, que Ximenes assim descreve; Ytzle huayo patli é uma árvore com a fronde do limão, cândidas e vilosas atrás, tendendo para o preto, na frente. Produz flores cândidas e mínimas; fruto exíguo, redondo, aromático, de sabor acre, semelhante ao de Caryophyllum; pode até supri-lo se for necessário, não só nos alimentos mais ainda nos remédios. As cascas do tronco aquecem menos, mas