História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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um pouco acre e ácido (desagradável para mim) mas é agradável o cheiro. No lugar, em que o fruto adere ao pedículo contém em figura de um supositório, uma substância dura, que pode ser tirada separadamente; serve para ser comida e é considerada como iguaria principal, na mesa. As sementes deste fruto são de figura oval; chatas, do tamanho da fava, lisas e duras, de cor amarela, lustrosas; cada uma é coberta de uma película branca; dentro se acha um núcleo branco de uma substância dura, tendo o sabor mais ou menos como o da raiz de Heleny; tem assim um que de amargo no doce. As folhas do araticu comum, tostadas no fogo e aplicadas com óleo aos abcessos, fazem amadurecê-los; depois se abrem e se curam perfeitamente. Nota. Não se compara mal à árvore Guanabano que Oviedo lib. VIII, cap. 17, assim descreve; Guanabanus é uma árvore alta e formosa; suas folhas são como os da maçã medicinal, chamada Limoneram; é verdejante. Seu fruto é belíssimo, do tamanho de um melão medíocre, que, no entanto, às vezes cresce até o tamanho da cabeça de uma criança. A casca deste fruto é verde e parece entrecortada de umas escamas, como a pinha, mas um pouco mais moles; não salientes, uma vez que toda a casca é mole; não mais grossa do que as das pêras. O miolo é muito cândido, de sabor delicadíssimo, que facilmente se dissolve, na boca, como o cremor de leite. Pelo miolo se acham esparsas grandes sementes; escuras e um pouco maiores do que as sementes das abóboras. Este fruto é frio e útil contra o calor; ainda que alguém devore todo um guanabano, não sente o mínimo detrimento. Constitui madeira frágil. Estas coisas diz Oviedo. Araticu pana. Cresce até à altura de uma árvore pequena com ramos semelhantes aos do araticu ponhe; as folhas são porém, um pouco diferentes e muito menores, do comprimento de três ou quatro dedos; da largura de dedo e meio, com a figura semelhante às das folhas de nossa pêra. A flor é da mesma figura, dotada de tantas folhas como a do araticu ponhe; é, porém, menor e totalmente lútea, sendo as seis folhas de cor sangüínea, na parte interna; quanto ao resto ê de cor lútea, com umas unhas sangüíneas. A seguir, vem o fruto de figura e consistência do precedente, amarelo, quando maduro (antes verde), porém menor, contendo uma polpa áurea; de odor do queijo podre, com muitos núcleos amarelos claros, do mesmo tamanho dos do precedente; seu fruto por sua qualidade fria é venenoso. Deita esta árvore raízes profundas, amplas, muito grossas, longas com tronco mole como o sobreiro; delas se formam escudos; são leves e assim nem as setas, nem os golpes de espada podem penetrá-los.A semente do Araticu ape é semelhante em figura e tamanho à semente do ponhe, mas difere na cor, que é bem escura. Araticu do mato. Cresce como o pana e dá folhas semelhantes. Creio que as flores são diferentes, mas nada de certo posso afirmar, porque o autor deixou aqui uma lacuna. Produz frutos aglomerados, oblongos; da figura da cebola nova oblonga; verdes, tendo cada um internamente duas sementes da figura e tamanho da amendoeira; na extremidade, porém, são mais agudas, lustrosas, de cor corvina tendo um núcleo.ACAIAIBA e Acaiuiba (termo indígena). O fruto é denominado vulgarmente Acaiû ou Cajú. Cresce até à altura da faia e se reparte em muitos ramos, até ao chão; as folhas são egrégias, largas, fastigiadas, no pedículo, redondas na parte anterior, dotadas de nervo e veias salientes. Produz flósculos, justapostas em forma de umbela, em número de oito, nove ou dez; numa umbela chegam até cem. Quando se abrem são cândidas; depois se cobrem de estrias encarnadas, de suavíssimo odor, como o lírio dos vales; consta cada uma de cinco folíolos estreitos, acuminados, encarnadas, em cima, como sucede com a flor da laranjeira; no meio, porém, tem um pequeno estame com um pequeno capitelo. Depois da flor, brota uma castanha da figura de um rim (pode-se ver a figura na descrição da América), a qual tomando incremento, entre a mesma e o pedículo, pouco a pouco cresce um pomo, oblongo, oval ou redondo; este quando maduro, consta de uma polpa esponjosa, fibrosa, mole, com abundância de suco doce ácido, adstringente. Por fora da pele é esverdeada ou um pouco vermelha, ou também é totalmente ruiva ou rubra; nalgumas árvores, o fruto é vermelho, redondo e mais ácido do que os outros; nalguns é oblongo, amarelo; em outros, redondo e amarelo. O suco mancha muito a roupa com uma cor ferruginosa, que não se poda apagar até que a árvore de novo floresça. A castanha, como disse, tem a figura de um rim de ovelha, coberta por uma casca cinzenta, grossa, esponjosa por dentro, contendo óleo acre e mordaz, de sorte que aplicado embora levemente à pele queima como fogo; por isso se alguém desacautelado esmagá-lo com os dentes logo a língua e os lábios ficarão queimados, causando viva dor. Também o núcleo tem figura de rim; é branco, coberto de uma cutícula amarela, que deve ser separada; assado tem excelente sabor, superior ao da castanha. Podem ser conservados íntegros por alguns anos; são queimados para extração do óleo; depois são socados com martelo, e são comidos, tendo-se antes extraído o núcleo. Os indígenas mais estimam a castanha para alimento do que este fruto, do qual extraem um vinho. Socam os frutos no almofariz e coam o caldo; às vezes também os espremem com as mãos e deixam assentar; o caldo torna-se branco como o