História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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verdade sua principal propriedade é adstringir, apertar e tingir com uma cor totalmente preta. A pele banhada com este líquido fica tingida de preto, que desaparece espontaneamente, depois de quinze dias; as unhas, porém, não se mudam de cor, a não ser que elas próprias se mudem. Os bárbaros, nos seus banquetes e em ocasião de partirem para a guerra, costumam impregnar-se com este líquido para que pareçam aos inimigos mais terríveis. Realiza-se também uma fraude para as mulheres quando com este líquido, misturado com água de rosa, banham a face; sendo em vão empregados remédios, porque é necessário esperar quinze dias. Consulte-se o que dissemos na descrição da América, lib I, cap. XI, acerca da árvore Xagua, segundo Oviedo.

CAPÍTULO IIEs pécies de araticu. Acaiaiba. ARATICU (termo indígena). Há três espécies desta árvore: Araticu ponhe, Araticu panâ, Araticu ape, finalmente Araticu do mato ou silvestre. Araticu ponhe. E uma arvore semelhante à laranjeira na figura do caule, nos ramos e na cor da casca; difere, porém, nas folhas, flor e fruto. As folhas medem de comprimento cerca de meio pé; são alternadamente opostas; elegantes, verdes carregadas em cima; grossas, sólidas, da largura de dois dedos, da figura de uma língua humana; acuminadas na extremidade. Aqui e ali brota uma flor grande, egrégia, superior à flor da Fritilaria, inteiramente amarela; exteriormente composta de três folhas cordiformes, do comprimento de dedo e meio, da grossura da casca da laranjeira; eretas, tendo no meio outras, três menores e da metade da grossura, das quais cada uma dá a idéia dê um meio globo cavado; três, porém, delas são assim dispostas e unidas, nas extremidades, que formam um globo oco do tamanho da noz. Este globo possui, na cavidade, um estame globoso, do tamanho da avelã, lúteo, com um ápice pequeno, redondo; o estame, e o ápice são dotados de pequenos tubérculos, semelhantes aos poros da pele do homem, que está com frio. A flor, digo, é totalmente amarela; o cheiro é suave, mas nauseabundo. Floresce principalmente em setembro, ob e novembro. A flor cai facilmente; cada mês abrem-se muitas; depois de algumas horas espontaneamente caem, produzindo um intrépido ao cair, como se alguém ferisse a árvore com uma bengala, porque esta flor é pesada e grande.Em seguida vem o fruto, que amadurece principalmente em dezembro e janeiro. Não serve para se comer, senão depois de caído; assemelha-se então a um polme; tem uma figura cônica; do comprimento de quatro ou cinco dedos; na parte em que adere ao pedículo tem uma grossura de sete ou oito dedos. A cor externa é branca mesclada de verde, ou verde-pálida; parece ser uma pele formada de escamas; as escamas são traçadas por umas linhas verdes pálidas, tendo cada uma escama um tubérculo pequeno, no meio; fusco, de sorte que quase representa uma noz de pinho. Quando este fruto cai, é mole, de sorte que pode ser descascado com os dedos, como queijo podre. Contém uma polpa amarelada, composta como que de várias pirâmides, mesclada de vários filamentos e muitos núcleos ou sementes. A polpa, quanto ao odor, não dá mal a idéia da massa de pão fermentada com mescla de mel; tem o sabor