outras menores sucessivamente se abrem e apresentam folhas semelhantes. As flores se apresentam deste modo: no pequeno pedículo do tronco superior, onde se acham as folhas, nascem quatro ou cinco, juntamente pendentes, à maneira de salsicha, uns corpos cilíndricos, do comprimento de seis, sete ou nove dedos e da largura de um dedo humano, ocos e formados como que de fios de algodão, moles; exteriormente, porém dotados de uns bagos de cor escura como as flores de nosso trigo; cobrindo estes, aqueles bagos crescem e tornam-se de uma cor (o autor não a indica); são tirados como dentes e comidos. Estas árvores logo se elevam a grande altura. Plantei ou antes transplantei uma para meu jardim, medindo apenas meio pé, muito tenra, em agosto de 1639; no espaço de um ano, cresceu até à altura de dez pés, tendo uma grossura de nove dedos.Os indígenas acendem fogo da seguinte maneira, sem bater a pedra com o instrumento de aço: tomam um pedaço seco do tronco ou raiz desta árvore; fazem um pequeno buraco; nele introduzem uma haste pontuda de um pau duro e a movem circularmente, como que esburacando; sustentando com firmeza aquele pedaço com os pés e aplicando-lhe folhas secas de árvores ou algodão; desta maneira acendem o fogo, como lhes apraz, e assim, em toda parte, podem acender o fogão. Ambaitinga, espécie de Ambaiba. Árvore que cresce do mesmo modo e tem folhas semelhantes, tendo, porém, na parte de cima a cor verde carregada; em baixo, verde clara; não dá fruto.JANIPABA (termo indígena) ou Ienipapo, como dizem os portugueses. Na figura se assemelha à faia; tem uma casca grísea ou branca; um tronco frágil e meduloso. Os ramos cobertos de folhas alongadas com a figura da língua de boi; mas estas são fastigiadas, de uma e outra parte, justapostas em número de seis, sete, oito ou nove, medindo um pé ou pé e meio de comprido; são lustrosas e verdes claras, em cima; em baixo, são de cor verde carregada e não lustrosas.Produz uma flor semelhante ao narciso, do mesmo tamanho, com cinco folhas, inclinadas para baixo, brancas, com unhas amarelas, na parte inferior.No meio, acha-se um estame um tanto grosso, amarelo; entre cada par de folhas, acha-se um cornículo pálido, que brota do meio da flor, curvado para cima; tem o odor semelhante ao do Caryophyllum Carthusianorum; floresce em março e abril.O fruto é do tamanho de uma laranja ou maior; redondo, com casca macia, cinzento, debaixo da qual se acha uma polpa sólida, mole, suculenta, amarelada, de sabor acre, refrigerante e acido-vinoso, de agradável cheiro; com ela se fabrica um vinho. No centro, a cavidade é cheia de sementes, rodeadas de uma polpa mais tenra, do mesmo sabor; os grãos da semente são chatos, arredondados como os da mangaba, que também se come. O fruto ainda verde, socado e esfregado na pele, tinge-a de uma cor preta azulada, que não é possível apagar; mas desaparece espontaneamente no intervalo de oito a nove dias. O tronco ou ramo cortado tinge do mesmo modo. Nasce aqui e ali, nos lugares silvestres, junto ao rio S. Francisco, não longe do rio Mboacica, onde dá maior abundância de fruto, sendo os melhores de todos. Nota. Esta árvore, na Nova Espanha, é denominada Xahuali, da qual assim fala Fr. Ximenes; Xahuali é uma árvore belíssima, de cujo tronco costumam fabricar elegantes hastes, longas e fortes; dá folhas semelhantes aos freixos; a matéria é pesada, de cor parda, tendente ao amarelo; produz um fruto semelhante ao capitelo da papoila, porém sem a coroa; o qual alguns comem, quando está maduro. Os americanos extraem dele uma água, com que banham as pernas e todo o corpo, quando se acha a carne enervada, para corroborá-la e uni-la; na
História natural do Brasil.
Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado