As folhas mastigadas solidificam as gengivas e dentes; cura feridas; essas propriedades existem também, nos frutos. Estas coisas diz aquele autor. Cl ar. V. Car. Clus. tinha procurado delinear o râmulo acima apresentado que pode ser visto, em "Curis" posteriores e em outras partes. Fez menção desta árvore Pedro de Cieca. Em toda esta região, diz ele, vêm-se árvores grandes e pequenas, chamadas Molle, pelos moradores; as folhas são mínimas, com o odor do funcho; com a casca tão útil, que seu cozimento alivia as dores e inflamações das pernas; dos râmulos se fabricam palitos utilíssimos. Deste fruto cozido nágua conforme o modo de decocção, fabrica-se um vinho ou uma poção muito boa ou mel ou vinagre; são tidas estas árvores, em tanta estima entre os americanos, que as consagram a seus ídolos, em certos lugares. Acrescentam alguns (diz Clus.) que o cozimento das folhas desta árvore serve de lenitivo às dores, causadas por friagem; sua goma, branca como maná, dissolvida no leite, tira a névoa dos olhos.Ouçamos a Garcilassum: A árvore Mulli, diz ele, nasce espontaneamente nos campos; dá frutos em cachos longos e estreitos, que são uns grânulos redondos; as folhas são pequenas e sempre verdes; o grão maduro tem na superfície um pouco de polpa, suave e agradável ao paladar, mas o resto amarga muito. Com eles fabrica-se uma bebida, esmagando-o com as mãos, dentro d'água quente até que se tenha extraído toda parte doce; deve-se evitar o amargo, que vicia a bebida. Coam depois esta água e a conservam alguns dias, até que as fezes se assentem; a bebida é límpida, agradabilíssima e muito saudável, principalmente para os que sofrem dos rins ou da bexiga, tornando-se mais eficaz, se lhe for adicionada cozimento de milho, A mesma água fervida mais tempo transforma-se em ótimo mel; exposta ao sol, com adicionamento de certos ingredientes transforma-se em excelente vinagre.AMBAIBA (termo indígena;.Esta arvore chega à uma elegante altura, quase reta geralmente e sem ramos; algumas têm, mas só na ponta. A casca exterior é semelhante a da figueira, constando de uma córtex tênue, cinzenta; debaixo desta acha-se uma grossa, mole e verde; seu lenho é como o do vidoeiro (Betula), porém mole e fácil de ser cortado. O tronco é de medíocre grossura, totalmente côncavo desde a raiz até a sumidade; a cavidade, a espaços de meio dedo, é cortada por uma membrana transversal, em cujo meio se encontra um buraco redondo, do tamanho de um grão de ervilha. Nesta cavidade, sempre se encontram formigas, vermelhas* sendo a mesma de cor hepática. Pela sumidade, as folhas se acham dispostas, como no mamoeiro, cada uma fixada a um pedículo do comprimento de um, dois ou mais pés, vermelho por fora, esponjoso por dentro. Esta folha é larga, redonda, do tamanho de uma folha de papel aberta ou ainda maior, dividida em nove ou dez lacínias, a cujo centro se acha fixo o pedículo, do qual parte no sentido longitudinal, para cada lacínia um nervo vermelho e veias salientes e oblíquas. Na parte superior, domina a cor verde carregada; na inferior, a cinzenta; parecem ter, em sua totalidade, a cor de sangue misturada com água. São híspidas como as da figueira; na extremidade das lacínias, acham-se como fímbrias umas linhas cinzentas. Na sumidade da árvore, a cavidade contém uma medula branca, suculenta e pingue, com que os negros curam com bom resultado as feridas; também para esse fim empregam as folhas novas; com efeito a cicatriz o demonstra.Esta árvore toma incremento da seguinte maneira: na sumidade da arvore existe uma teca oblonga, foliácea, esbranquiçada, que contém uma folha e duas, três ou quatro tecas menores. Abrindo-se a teca exterior, a árvore aumenta em folhas e pouco a pouco torna-se mais alta; a folha oculta na teca tem o tamanho de um guardanapo quando a teca se abre por si; jaz então dobrada (complicada) de uma maneira belíssima e de admirar, embaixo é esbranquiçada e verde clara; em cima, vermelha como a dos sapatos dos magistrados. No centro das folhas, onde está inserido o pedículo, na superfície superior ou estrela vermelha, observa-se uma cor verde amarelada, isto é, um como que centro de todos os nervos verde-claros e amarelados, que se estendem, no sentido longitudinal, por todas as lacínias. Aberta a teca exterior, as
História natural do Brasil.
Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado