mel, é levado a um vaso de purificação até que se encha; em seguida é levado a outros três menores, chamados Tache, nos quais se torna mais espesso, como nos demais caldeirões; ao passo que se vai evaporando o líquido, aumenta-se o fogo. Destes três caldeirões só movem o terceiro e para que não se ferva demais e se derrame o líquido às vezes lhe lançam manteiga, óleo ou outra gordura. Quando chega a uma conveniente espessura, é lançado em altos vasos, chamados fôrmas; estando preparada uma base de bagaços de cana, umedecem esses vasos com água, fecham seus buracos, põe em cada um, uma parte deste líquido espesso, chamado Melado (o último vaso pode, no máximo, conter nove fôrmas). Agitam-no depois com uma grande espátula de abieto e pouco a pouco vão derramando; no dia seguinte, suprem a quantidade evaporada. Transportam depois as fôrmas para o lugar destinado à purificação e tendo aberto os furos delas, perfuram o próprio açúcar e assim o deixam dez ou doze dias, conforme a natureza do tempo. Quebram em seguida estas fôrmas com um martelo e examinam cuidadosamente se o açúcar está purificado; no caso negativo, de novo o lançam às fôrmas unidas pela argila (dizem que para branquear o açúcar foi encontrado um meio pela observação das galinhas tendo elas calcado o açúcar com os pés sujos o tendo impregnado com argila, verificou-se que aquelas partes se tornarem mais alvas do que as tocadas pela argila).Repetem esse ajuntamento de argila até duas vezes para que não se perca muito açúcar. Este açúcar purificado tem o título de Lealado; especialmente se chama Auzucar macho; si não se acha bem claro chama-se Mazcovado; o qual à vontade pode ser purificado perfeitamente.Há uma outra categoria, denominada Espumas; é fabricado com as espumas, colhidas de todos os tachos, que são fervidas e purificadas da maneira acima descrita. Existe também outra qualidade denominada Reespuma ou açúcar posterior, fabricado com a espuma das espumas do mesmo modo; existe mais outra espécie de açúcar, chamado Panela, fabricado do mesmo modo do líquido nodoso, que emana da parte inferior das fôrmas; esta espécie é a mais ordinária e se denomina Reespumam; todas estas espécies de açúcar, depois de purificadas e tiradas das fôrmas, são expostas ao sol e conservadas para vários usos. Existe uma certa espécie de líquido meloso, Decaras, como dizem, que emanam das fôrmas com mescla de argila; mas ainda uma terceira que cai das panelas.O líquido meloso, que adere aos canais condutores, chama-se, na sua linguagem, Raedura; dele fazem mel ou açúcar refinado. Os vasos ou instrumentos usuais são: Bomba ou colheres de cobre, que podem conter dez ou doze sextários, com cabos de madeira; com elas transferem o líquido de um vaso para outro; Espumadera, lâminas perfuradas como crino com cabo de madeira, que servem para tirar a espuma; Remillones, colheres de cobre, que contêm três ou quatro sextários, com os quais derramam a lixívia no açúcar colocado nas fôrmas; Formae, vasos de argila, perfurados na parte inferior, com que se purifica o açúcar; Tendal, tablado de bagaços de cana, em que se colocam as fôrmas; Virandera, vara redonda com ponta de ferro, com que se prepara um lugar conveniente para as fôrmas, afim de que não caiam; Paralbero, panelão, colocado junto dos tachos, em que se coloca o que denominam Melado, que deve novamente ser lançado às Tachas; são vasos menores de cobre, de forma triangular, das quais o último tem uma asa, para que o açúcar possa ser agitado; Hornallo, forno, em que se colocam os vasos de cobre; Repartidor, colher com cabo de comprimento de meio palmo, com que lançam o açúcar às fôrmas. A argila com que se purifica, chamada Marcapes, é de barro meio escuro e plúmbeo, que se encontra, em lugares úmidos e alagadiços, que se seca ao calor do sol para uso de todo o ano. Quando o emprego exige, lançam-no a uma cisterna de pedra e cimento; lançam água; agitam e revolvem com uma pá muito grande, que sustentam com ambas as mãos; coam por um crivo de cobre para ser recebido num vaso de argila. A primeira argila é mais rala; a segunda mais espessa, achando-se mais consumida a humidade. Soube, no Rio de la Plata, que nascem espontaneamente canas de açúcar e crescem até à altura de uma árvore (o que narra Plínio ter acontecido em seu tempo); delas amarram ao calor do sol grãos de açúcar. Ficam ditas essas coisas acerca do fabrico do açúcar, que os antigos ignoravam. Estas coisas diz aquele autor. CAPÍTULO XVI Caraguatá de várias espécies. Jurepeba. CARAGUATAE (termo indígena). Há muitas espécies; uma já foi descrita lib. I, cap. 18; as outras aqui explicamos, como descreve o autor. CARAGUATA. Planta que cresce nas árvores ou troncos apodrecidos das árvores. Da 87raiz filamentosa, fixada no tronco e ramos das árvores, procedem nove, dez ou mais folhas, de um até cinco pés de comprimento, grossas como a folha do Nana; da largura de três ou quatro dedos e côncavas como um canal; dentadas nos bordos, com acúleos escuros, agudos, eretos.No meio destas folhas, aparece um caule esbranquiçado, redondo, da grossura de dedo mínimo, do comprimento de cerca de dois pés, lenhoso, meduloso, possuindo pares de capítulos (na sumidade às vezes cinco) da figura da alcachofra, do tamanho da noz de nogueira, formados de folíolos grossos e aculeados; de uma elegante cor encarnada.CARAGUATA GUACU (esta espécie é a maior). De uma falsa raiz, semelhante à cebola na cor e figura, com muitos filamentos na parte inferior, brotam primeiramente três, quatro ou cinco folhas grossas, suculentas, verdes, côncavas; em seguida, vem várias, da figura de um triângulo agudíssimo e permanecem levantadas, unidas circularmente, medindo oito, dez ou quinze pés de comprimento e um de largura. São acuminadas na extremidade, e dos lados, em direção à parte inferior, munidas de dentículos avermelhados; de uma só raiz procedem trinta ou quarenta folhas.No meio das folhas, quando a planta tem a idade de dois anos, levanta-se um caule ou tronco, da grossura da tíbia superior do homem, esponjoso ou mole, coberto de um e outro lado de folhas triangulares menores; tem altura de cerca de dezoito ou vinte pés e na sua sumidade, apresenta um tronco tenro e fastigiado, semelhante a uma árvore com seus ramos; os ramos por sua vez possuem râmulos e numerosos corpúsculos cônicos, do comprimento de um dedo, que apresentam uma flor, quando abertas. Esta consta de quinze folhas, do tamanho das flores de Ibabiraba; de cor verde amarelada, com alguns estames no meio.Apresenta a flor à figura de uma estrela; cresce em pouco tempo a uma grande altura.Das folhas desta planta pode-se fabricar ótimo pano, que rivaliza em qualidade com o linho; da substância dos corpúsculos cônicos, antes que se abram em flores, podem ser tirados uns filamentos brancos, rivais do algodão. A raiz ou as folhas destas plantas, ainda novas, sendo trituradas em embebidas
História natural do Brasil.
Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado