resto do espaço deve ser distribuído para a colocação de fôrmas de açúcar, panelas cinerárias (") e vaso de água, devendo haver um espaço para comodidade do trabalho.Há necessidade ainda de uma outra casa, vizinha do moinho, chamada Casa de purgar, do comprimento no máximo de dez ou doze varas, e de três ou quatro de largura. O moinho, movido por queda dágua possui três rodas, isto é, uma dentada menor, outra maior; os portugueses as denominam Roda d'agoa, Rodete, Bolandeira. A dentada maior tem duas pás, chamadas aspes e contrages. O engenho movido por bois não tem rodas, mas tem uns esteios fixos na parte superior e descidos obliquamente, aos quais são ligados os animais para que se mova o engenho. Este é formado por três Eixos grossos, formados de uma madeira dura, da árvore Iacapucaya . Estes eixos são armados de umas lâminas grossas de ferro em forma de anéis, tendo em cima e em baixo umas agulhas de ferro, com as quais são movidos, achando-se estas agulhas fixadas a uns eixos transversais, chamados pontes. A trave inferior é sustentada por outras duas traves transversais, chamadas Chumasseiros. Junto dos eixos, de um e outro lado, acha-se uma tábua de vigas, chamada Tavoleira para se colocar a cana, que adere aos eixos para ser espremida. Todo o engenho é sustentado por quatro grandes traves, chamadas Virgenis da moenda, de maneira que o comprimento do moinho é de cerca de doze pés, a largura de oito. Num dos lados, assistem dois negros, que continuamente introduzem a cana nos eixos, os quais a arrebatam, comprimindo num estreito espaço, sendo necessário o serviço de um negro para tirar a cana prensada chamada Bagaço. Este bagaço é carregado por dois outros negros para um certo lugar, onde é acumulado; depois deita-se-lhe fogo, do contrário formaria montões enormes (quotidianamente se prensam quarenta ou cinqüenta cargas); a cinza serve para estercar os campos. O caldo doce esprimido cai numa canoa de madeira, colocada por baixo, chamada Coche; daí por meio de um canal corre para uma grande caldeira, não muito longe do engenho. Sobre aquela caldeira acha-se um tablado alto,(") qual está colocado uma outra canoa de madeira, para a qual da parte inferior sobe o caldo por meio de uns vasos; enfim é transportado para a cozinha e lançado às caldeiras. O caldo doce nem um só dia pode durar, sem ficar azedo, por isso, uma vez esprimido logo deve ser fervido, porque não se pode fazer açúcar do caldo azedo; deixado dois dias torna-se um vinagre forte.A primeira caldeira é chamada pelos portugueses, Caldeira de mear descumos, na qual o caldo é sujeito à ação de um fogo lento, sempre movido e purgado por uma grande colher de cobre chamada Escumadeiro, até que fique bem escumado e purificado. A espuma é recebida numa canoa, posta em baixo, chamada Tanque, assim também a Cachaça; a qual serve de bebida para os burros; o que fica é lançado fora, por ser simplesmente resíduo do suco. O caldo assim depurado é lançado numa outra caldeira próxima, Caldeira de mear; nesta fica sujeito à ação de um fogo mais forte; é movido, depurado e a intervalos borrifado com um pouco de lixívia, único meio para purificar o caldo.Assim purificado ainda não é açúcar, mas um suco ralo como água; depois é lançado a uma terceira caldeira, Caldeira do coar, onde de fato é coado com o auxílio de um pano, chamado Coradouro. A espuma ou Escumo, como dizem os portugueses, tirada do segundo depósito é conservada num vaso apropriado chamado Coche descumas; esta espuma é dividida entre os escravos, os quais preparam uma bebida denominada Garapa. Do terceiro é transmitido para o quarto ou quinto tacho este líquido coado, onde é agitado com uma grande colher; algumas vezes é refrigerado com algumas gotas de água fria. Em seguida é depositado em outro vaso de cobre, chamado Barola de meado; daí é coado num pano e depois lançado num vaso, chamado Barola de coado; em seguida é transportado a uns depósitos maiores chamados Tachas; o primeiro deles chama-se Tacha de receber; o seguinte, Tacha de cozir, onde é cozinhado de modo suficiente; o terceiro, Tacha de bater, onde não somente é cozinhado, mas ainda é lançado ao alto o suco, sujeito ao movimento exercido por uma grande colher; às vezes chega a ser elevado a uma altura de vinte pés para cair em seguida no depósito.O suco cozinhado deste modo chama-se Agoa de Tachas, formando uma ótima garapa; na realidade é o próprio açúcar. Depois de bem fervido é lançado no depósito, chamado Bacia d'esfriar, onde pouco a pouco acaba de refrigerar; desta maneira fica preparado o suco apto para ser lançado às formas.Durante o processo do cozimento, o prefeito do trabalho, chamado Maestre d'asucar, a espaços lança ao suco, em ebulição, umas gotas de óleo de oliva para causar um certo refrigério, afim de que não resulte dano, devido à ação do fogo veementíssimo, que se acha em baixo; pelo mesmo motivo pelo qual se lança aos grandes tachos gotas de lixívia. Convém notar que, se fosse feito um processo contrário, isto é, lançar óleo aos grandes tachos e lixívia aos pequenos, o suco não se poderia purificar e até se tornaria inútil para produzir o açúcar.O açúcar levado à consistência de xarope, por uma colher é lançado a fôrmas de barro, colocadas num grande reservatório, rodeados pela cana já prensada, onde o líquido é batido com uma espátula de madeira para que abaixe e em seguida ajunta-se mais quantidade para que fiquem cheias as fôrmas. E de notar que a espátula é inteiramente necessária, porque o
História natural do Brasil.
Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado