História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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sol não penetre; no tempo frio, isto é, agosto mais ou menos, devem ficar menos aprofundados para que a água da chuva possa penetrar melhor, e fazer a germinação com mais rapidez.Em cada entrenós brotam os gomos (gemina) da cana plantada, de sorte que cada entrenó dá uma nova cana. Depois da germinação, a cana, de três em três ou quatro em quatro meses, conforme o solo, deve ser podada das folhas luxuriantes, para que não fique privada do seu desenvolvimento; este trabalho deve ser repetido até que tenha um certo incremento.No espaço de dez ou doze meses, a cana adquire um justo tamanho, conforme a natureza do solo, tornando-se apta para a fabricação do açúcar.Algumas vezes ela é conservada até um novo ano; chama-se então cana antiga * e dela germinam novas canas, que no novo ano é levada às máquinas com a antiga. Não sendo cortada, depois de dois anos, geralmente se estraga, a não ser, em terreno muito fértil, no qual pode durar até três anos; a raiz permanece intacta.Esta cana, uma vez plantada, se multiplica à maneira de um bosque, de maneira que não é necessário replantar o mesmo campo, senão depois de quarenta ou cinqüenta anos; nem assim é arrancada radicalmente e replantada, a não ser para produzir melhor suco. Os danos que podem sobrevir e acidentes, que destroem os canaviais são o incêndio, principalmente em tempo calmoso, podendo-se consumir até à raiz; contudo o dano pode ser reparado, se após a combustão vier logo a chuva. Perece também por excessiva inundação, em tempo invernoso, principalmente quando é nova, não havendo atingido uma altura média. É estragada também por um vermezinho, chamado pelos indígenas Guirapeacojâ e Pao de galinha, pelos portugueses, o qual devora as raízes, seguindo-se daí a destruição total da cana; este acidente é freqüente em lugares alagadiços. Pode também ser sufocada por árvores luxuriantes, por isso com freqüência os canaviais devem ser roçados. Depois de crescida a haste, cortam-se as canas, junto da terra, no nó inferior, onde não se encontra caldo de açúcar, mas somente uma humidade aquosa; cortam-se as folhas unem-se em feixes, tirada a parte superior; ligam-se com suas folhas; põe-se em carros tirados por bois para serem sujeitas à moagem. As folhas ou sumidades da cana, bem como as folhas mais novas, são chamada Olhos pelos portugueses; são tiradas todas as tardes, no espaço necessário, e esparsas aqui e ali servem de forragem para os bois, que se acham ali encerrados afim de que estejam de manhã dispostos para o trabalho: os cavalos também comem destas aparas, principalmente quando divididas em mínimas partes.O tempo da colheita começa em setembro e termina em fevereiro ou março, conforme a quantidade de cana possuída pelos lavradores.A máquina de moagem, chamada Engenho pelos portugueses, Ibira babaca e Ibira pararanga, pelos indígenas, se divide em duas categorias, umas movidas por bois, outras por queda dágua; sendo esta chamada Engenho d'agoa e aquela Eng de boys. Hoje às vezes, em lugar de bois, empregam cavalos, os quais movem a máquina com mais rapidez.A máquina movida pela água pode ser construída de três modos: ou toca a roda na parte inferior e se chama Rasteiro; ou no meio e se chama Meocopeiro; ou emfim cai, na parte superior, e se chama Copeiro, aquela exige muita água; a segunda, menor quantidade; a última, mínima. Para qualquer máquina quer seja movida por queda dágua quer por bois, exige-se uma área do comprimento de cinco varas e da largura de três ou mais; nesta se edifica o moinho. Junto a esta, escolhe-se uma outra área de quatro ou cinco varas de comprimento e de duas ou três de largura para a construção da cozinha, chamada pelos portugueses Casa de caldeiras. Desta arena pode tornar-se em benefício das caldeiras um espaço em forma de para-lelogramo de três varas e meia de comprimento, e de três quartos de vara (?) de largura; o