de sorte que o capítulo parece hirsuto. Depois das flores, vêm umas silículas finas, estriadas, híspidas, guarnecidas de moles acúleos, medindo cerca de três dedos de comprimento; dentro delas acha-se uma semente muito preta, lustrosa, oblonga, com uma figura quase de um coração, do tamanho de um grão de trigo. A raiz desta planta é perene e sempre lança de si novos caules; esta raiz é do comprimento de um pé ou um pouco maior; da grossura de cerca de quatro dedos em cima, mas vai-se afinando para a parte interior, é contorcida como uma corda, tendo muitos filamentos laterais, na parte média, do comprimento de um ou dois pés; na parte exterior, é de cor escura; por dentro é de cor branca, lenhosa, medulosa, macia, fibrosa. Tem esta raiz um odor forte semelhante ao de nossos rábanos, guardados por largo tempo no quarto, durante o inverno. A erva é inodora e de gosto adocicado; tem uma singularidade de se contrair e se concentrar quando tocada pela mão, pé ou bengala, mas logo depois se torna a abrir o que pode ser observado pelos circunstantes; também ao pôr do sol se encolhe como que afetada de tristeza.Encontra-se também uma outra erva viva, frutífera, chamada pelos portugueses Silva d'Agoa. Cresce até à altura de uma ameixeira (Prunus) silvestre; suas folhas são semelhantes às da precedente espécie, mas um pouco mais finas, dispostas em râmulos.Cada ramo é de quatro, cinco ou seis dedos de comprimento e tem oito ou nove pares de râmulos mutuamente opostos, medindo cada um dedo e meio de comprimento; em cada um, acham-se muitos pares de folíolos mutuamente opostos. A flor se assemelha à da espécie precedente, sendo, porém, um pouco maior, do tamanho da cereja (Cerasus). O tronco tem uma casca avermelhada; é mole e guarnecida de muitos espinhos vermelhos. Produz a semente numas silíquas grandes, largas, como a silíqua da ervilha, híspidas, de cor escura, do comprimento de três dedos.Quando a semente está madura, as silíquas espontaneamente se quebram em tantas partes quantos são os grãos de semente; no sentido longitudinal da silíqua, de um e outro lado, um fio híspido se desprende. Cada grão de semente tem o tamanho do grão de trigo; é chato, de cor azeitonada, incluso numa cápsula quadrada ou com a forma de paralelogramo. Nota. Muito singular e admirável é a composição desta silíqua, a qual como eu tivesse recebido do Brasil por intermédio de amigos, julguei que valia a pena representá-la no seu tamanho natural, embora o pintor dificilmente poderia representar sua elegância.A terceira espécie, também arbustiva, é menor do que a precedente; tem folhas finas, mais finas do que as da precedente, dispostas da seguinte maneira: seus râmulos do comprimento de
História natural do Brasil.
Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado