História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

Página 73


de cor verde carregada e em baixo, de um verde claro como a caapeba. Cada folha fica distante da outra, cerca de dois dedos e meio, baseado num pecíolo, do comprimento de um dedo, rodeada de uma folhazinha dentada, que procede do caule; possui, junto do pecíolo, uns capréolos. avermelhados aos quais se, une. Depois da flor, vem a fruta oval, do tamanho de uma ameixa (Prunus) maior, a princípio verde; sua casca não é tão grossa, como nas outras espécies; contém uma polpa branca, com sementes lenticulares, como no murucujá-guacú; do tamanho da semente da maça, preta, lustrosa. Observei uma outra espécie, chamada pelos indígenas Murucuja-ete, cujas folhas são totalmente de um verde claro, divididas em três outras verdes, dentadas ao redor, onde se fixam ao pedículo. A flor consta de dez folhas, sendo, cinco verdes exteriormente e brancas interiormente; entre estas se acham colocadas alternadamente outras cinco totalmente brancas; do meio da flor procedem uns filamentos como a figura do sol, tendo, na metade interior, uma cor purpúrea cerúlea; na exterior, branca. No centro da flor, acha-se um estame, dividido em cinco braços, com pontos azuis, com um corpo esponjoso, salpicado de um pó lúteo; no meio do corpo pisiforme se acham fixos três cravos; a flor é de agradável odor.HERA Murucujá (o Murucujá é uma hera). É uma espécie vesical, lanuginosa, de odor forte como me dizem. Alastra-se com seu caule e se fixa por meio de capréolos este caule é redondo, hirsuto, vermelho e mole; as folhas são acuminadas, da forma do coração, brandas ao tato, como a seda. Produz uma flor do tamanho do pataco com dez folhas, cinco brancas em cima e verdes na parte avessa é cinco inteiramente brancas, colocadas alternadamente. Sobre essas folhas se estendem circularmente muitos filamentos brancos, como na flor da paixão, um pouco contorcidos e circularmente purpúreas interiormente; no meio acha-se uma columela branca com pontos vermelhos, à qual se acham firmadas cinco corpúsculos esponjosos com três cravos, de cor verde clara, como sucede com o murucujá. A seguir vem um folículo turbinado, do tamanho de uma tâmara, dentro de cuja cavidade acham-se as sementes. O odor da planta é forte e penetrante como o meimendro (Hyoseyamus), mas com um pouco de suavidade; esta planta imprime o odor, sendo tocada com as mãos.

CAPÍTULO XIICaao ou erva viva. CAAEO (termo indígena). Herba viva (termo vulgar). Tem um caule estriado, verde, longo,não grosso, lenhoso, aculeado, frágil e meduloso, do qual uma parte adere à terra, outra se ergue e adere a outros. Divide-se em vários ramos e estes, por sua vez, em râmulos do comprimento de dois ou até quatro dedos, aculeados. Cada râmulo tem cinco, seis ou oito costas opostas, tendo cada um de comprimento um dedo ou dedo e meio; estas costas contêm folíolos de verde alegre, colocados em ordem e entre si opostos, finos, oblongos, como os das lentilhas, sem pedículos, tenros, dotados, no sentido longitudinal, de um nervo fino que não é visível, a não ser que se vire a folha. Junto ao caule, onde brotam os râmulos, aparece um pedículo (raramente mais de um, num só lugar, mas quando há muitos num só, também no ápice do caule se acham reunidos glóbulos em forma de espiga).Este pedículo é do comprimento de um dedo; apresenta um capítulo redondo, do tamanho da globulária Monspel. Car. Clus. Rar. Plant. lib.VI, cap. I, ou até maior, constando de notáveis flósculos de cor cerúlea-purpúrea (às vezes também de cor encarnada), unidos intimamente,