História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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contendo cada qual, no sentido longitudinal, um nervo e veias oblíquas. São além disso dentadas, no âmbito, de um verde vivo e lustroso, dispostas no caule, como na primeira espécie.A flor convém com a precedente, em tamanho e figura; difere porém, na cor e no número das folhas, porquanto as exteriores e maiores são verdes, na parte inferior, e brancas, na superior, entremeadas de umas cinco totalmente brancas. Do meio da flor procedem filamentos em figura circular, de cor purpúrea-cerúlea, na metade da parte interior, e amarela clara, na outra exterior.No meio acha-se a colunazinha redonda, de cor amarela esverdeada, dividida em cima em cinco (às vezes seis) curvaturas, inclinadas para baixo, com um corpo de natureza esponjosa, de cor amarela esverdeada, como nos outros. No meio do ápice da coluna, se acha um orbículo pisiforme, com três cravos aderentes, inclinados para baixo. A flor é de suave odor; o fruto convém com o descrito acima, mas, quando verde, é de cor amarela esverdeada, salpicada de pontinhos brancos, como a coloquintida (Colocintis) brilhante como um espelho e sumamente liso; quando maduro é da cor do limão.IV. MURUCUIA Piriforme (outra espécie). Assemelha-se ao precedente, na flor, mas difere nas folhas; a flor também é maior. As folhas ficam isoladas, fixadas cada uma a um longo pedículo de dedo e meio de comprimento, tendo a figura de um coração bovino; do comprimento de cerca de cinco dedos e da largura de quatro, onde é maior. Não são dentadas nos bordos; são verdes claras, lustrosas, possuindo um nervo no sentido longitudinal e veias oblíquas, quase proeminentes. Junto de cada pedículo da folha, encontra-se também um capréolo * de caule, ao que se liga, e no mesmo lugar, se acha um pedículo do comprimento de dedo e meio, contendo três folhas, do comprimento de dedo e meio, dispostas circularmente à maneira de uma flor, verdes e dentadas de um modo grosseiro. Nestas folhas se assenta a flor, cujo diâmetro é de mais de quatro dedos, tendo dez folhas, das quais cinco são vermelhas em baixo e em cima, outras cinco, porém, são vermelhas em cima e verdes em baixo, colocadas todas alternadamente.Sobre estas folhas se erguem em forma de círculo, filamentos de dedo e meio de comprimento (em outras espécies ficam descidas), os quais são bem fortes e redondos; a metade inferior deles é de uma cor mesclada de laça, purpúrea e branca; a parte superior ou extrema é inteiramente purpúrea. No centro da flor igualmente se encontra erguida uma coluna, torneada, da altura de um dedo, tendo em cima um corpo oval com três cravos fixos de cor amarela clara; em baixo, se estendem circularmente cinco braços com pontinhos vermelhos e no mais amarelos. Cada um tem um corpo elíptico; de natureza esponjosa, achatado, de cor clara; coberto de um pó lúcteo; a flor é de suave perfume; o fruto é piriforme. Todas as espécies de murucujá geralmente começam a florecer em agosto e continuam até janeiro; frutos maduros copiosos em janeiro e fevereiro; em março, abril, maio e junho, caem às folhas e nascem outras novas. O murucujá maior e o médio são cultivados nos jardins e não se encontram em lugares campestres, salvo onde outrora houve jardim; o menor nasce, nos campos espontaneamente.Uma e outra espécie são transplantadas por meio de galhos sem raiz) da grossura de um dedo, os quais devem ser enterrados, na terra, até o comprimento de um pé e devem ficar para fora, cerca de meio pé; desta maneira germinam e cobrem as cercas à maneira da hera trepadeira; tem também clavículas, * com que se agarram. Acha-se também uma outra espécie de murucujá que se alastra e se apega aos arbustos, com um caule fino redondo, verde e nerboso. Suas folhas se assemelham à hera (Hedera) trepadeira, dividem-se em três pontas; são, em cima