PINAHVIZXIHVITL (alguns denominam Cocochi atl) porque posta sobre a cabeça logo concilia o sono; por isso parece gerar o sono só com o contacto (mais facilmente nos bárbaros do que nos espanhóis). E um arbusto da altura de quatro palmos; seus caules são tênues e cheios de espinhos; são folhas divididas em seis partes ou sinuosidades e unidas entre si como ramalhetes de flores, não se diferindo do izquixochitl. A raiz é coberta de sarmentos; as flores e os frutos, a semelhança das castanhas (castanea), a princípio são verdes e depois vermelhos, pendentes em forma de cachos. Nasce, nos lugares quentes de Tepuztlan e Quahtla e nas colinas de Acapiztla. Dizem que atrai o amor; mas não podem explicar porque ou de que maneira. As folhas têm um sabor dos rábanos silvestres; são frias, secas, adstringentes e glutinosas; o suco da raiz cura febres terças e olhos inflamados; concilia o sono e é útil contra a disenteria. É o arbusto cujas folhas se contraem e murcha ao mínimo contacto ou sopro humano; por isso suspeito ser a mesma ou congênere que uma chamada nas Filipinas, erva viva ou sensitiva. Dela afirmam (não sei com que segurança) algumas coisas, que não se encontram nessa nossa; tais são: produz troncos retos, da grossura da pena da galinha, em número de dez ou doze em cada raiz. Cada um possui doze folhas em quatro ordens, distando entre si um espaço de seis dedos transversais e assemelhando-se ao rábano silvestre; as folhas são cerúleas, semelhantes à língua de pardal antes que se dividam; depois se dividem em três folhas menores. De tal maneira se ofende com o contacto humano, que, tocadas as pontas das folhas com os primeiros dedos, a planta parece entristecer-se e ser oprimida pelo sono; caem depois as folhas inferiores e superiores, se for novamente tocada. Os troncos, se forem tocados, logo se abrem e caem; se forem cortados, vemos a parte tocada preta, como se tivesse sido queimada. Se lançarmos um sopro, logo ela agita as folhas e se racha, o ,que não acontece, se á tocarmos com uma vara ou bengala. Esta planta é insípida e não tem uso algum medicinal, enquanto posso conhecer. Fazem menção de uma outra planta, que nasce em Malabar, que igualmente detesta o contacto e sopro humano; tem esta planta folhas de polipódio e flores lúteas; existe uma no Peru que, apenas tocada, seca; nem deixa de haver uma semelhante na ilha de Gaditana. O que mencionei a respeito de Pinahuiztli, eu mesmo experimentei e demonstrei a outro, de sorte que não se pode duvidar do fato. Estas coisas diz Ximenes. Francisco Lopes de Gomara, na sua História Geral, cap. 194, escreve que, no Peru, nascem uns arbustos cujas folhas murcham, quando tocadas pela mão e no capítulo 265, diz que há umas semelhantes em Nicarágua. Creio ser o arbusto que o autor aqui descreve. Aliás Garcias ab Horto, lib.II, cap. 27, diz: "Nasce em Malabar uma planta de admirável natureza; quando é tocada pela mão, logo se contrai; tem folhas de polipódio e flores lúteas". Cristóvão da Costa, capítulo IV, denomina a erva viva e a descreve cuidadosamente; a respeito desta depois falaremos. Esta planta foi conhecida dos antigos, porquanto é descrita cuidadosamente por Teophr. lib. IV, Hist. Plant. cap.III, no fim. Diz o seguinte: Nasce um certo arbusto, perto de Menfis, que não tem folhas, nem ramos, nem forma inteira peculiar, mas um acidente de paixão. Tem o aspecto espinhoso e folha semelhante inteiramente ao sílex; se alguém toca nos râmulos, dizem que as folhas caem como que entorpecidas; depois de algum tempo, revive e abre suas folhas. Acerca desta planta admirável depois diremos várias coisas, pois há várias espécies da mesma. Somente não se deve omitir que Plínio fez menção dela lib. XXIV, cap. 17, onde diz: Ajunta a estas plantas, Apolodoro que dá testemunho, uma erva aeschynomene (sensitiva), porque contrai as folhas ao aproximar-se dela a mão. Cita-a entre as ervas celebradas pelos magos, quando nada há mais certo do que esta erva ter tal fenômeno. É de admirar que os autores, que tratam das plantas do Egito, não façam hoje menção dela.CAPÍTULO VIM andiiba ou Maniiba, da qual se faz Mandioca. MANDIIBA OU MANIIBA (termo indígena) cuja raiz se chama Mandioca. É um arbusto de caule lenhoso, da grossura do polegar ou dedo humano, nodoso, de casca como a da avelã (corylus), que cresce até à altura de seis, sete ou oito pés, tendo uma medula como o sabugueiro e segregando um suco leitoso. Em cima se estende em muitos ramos, que, por sua vez, possuem outros menores, havendo em cada um deles três, quatro, cinco, seis ou sete folhas estreitas, oblongas, dispostas em forma de estrela, tendo uma cor verde quase igual a da peônia. Produz flósculos amarelos pálidos, constando de cinco folíolos, com muitos estames lúteos, no meio. A raiz torna-se do comprimento de dois ou três pés e da grossura de perna humana; no fim é mais redonda; a cor externa é escura como a da casca da avelã; a interna é branca. Esta raiz é frágil e contém um suco lácteo, glutinoso, que mata a todos os animais.
[página 66] Existem várias espécies desta raiz, no Brasil, com denominação diversa, a saber: Mandiibucu, Mandiibimana, Mandiibibijana, Mandiibiurucu, Mandiibparata, Mandiibcariamuna, Mandiibtinga, Mandiibmaracana. Mandubcuguacu, Apitiuba, Aipi (Aipi, por sua vez, se divide em outras espécies) Aipi guacu, Aipi arendi, Aipicaba, Aipiguapamba, Aipi Jaborandi, Aipi jurumu, Aipi jurumimirim, Aipi jurucuja, Aipi macaxera, Aipi maniacau, Aipi poça, Aipitajapoja, Aipipitinga. Sobre a cultura da mandioca o autor dá as seguintes notícias. Em que terra se planta. Abatem-se os bosques montanhosos ou planos, queima-se a lenha e aí se prepara o campo, chamado pelos indígenas Co, pelos portugueses Roza. Exige-se, porém, terra boa, mediocremente seca, não úmida; por isso os lugares montanhosos são preferíveis. Pode ser plantada, todos os meses, excetuando-se os do inverno. O tempo melhor é em janeiro e fevereiro; depois em agosto e setembro; planta-se também em meiados ou fins de julho. Como se faz a plantação. A terra lavrada é disposta em pequenos montes, chamados pelos portugueses Montes de terra cavada e pelos indígenas Cujo. Os indígenas outrora os formaram com estacas pontudas denominadas, na língua deles Ibirapoa. Cada um dos montinhos mede de largura três pés e de altura pé e meio; é redondo, para que a chuva possa correr sem penetrar; esta planta exige calor e aridez. A cada montinho fixam três talos de Mandiiba, cada um dos quais mede oito ou nove dedos de comprido ou até um pé; são enterrados de maneira que uma parte fique saliente; essas partes salientes se cortam sobre a terra, formando quase a figura da cruz. A distância dos montinhos deve ser de dois, dois e meio e até três pés; os talos devem ser colocados de maneira que a parte que antes tendia para cima, de novo também tenda para cima. Por meio da raiz não se pode transplantar a mandioca porque, tirada da terra e tocada logo morre. Depois que os talos são fixados na terra, germinam dentro de dez dias e brotam tantos germes, quantos são os nós do talo. Cada germe é constituído por um pequeno caule do comprimento de um dedo, dividido em muitos râmulos de cor vermelha com mescla de cerúleo; cada râmulo tem uma folha dividida em outras três, quatro, seis ou sete folíolos verdes claros, estreitos, oblongos com um nervo no sentido longitudinal, e veias transversais, colocadas em ordem; estes são colocados num pedúnculo vermelho da figura de uma estrela. Como deve ser tratada a plantação. O campo deve ser carpido três ou quatro vezes até que a planta cresça, o que se realiza depois de seis, ou sete meses. Ervas espontâneas se tornam luxuriantes, nos campos, e com sua abundância afogam as sementeiras ou plantações, se não forem arrancadas. Que danos pode sofrer esta planta. Os germes e tenras folhas desta planta são comidos pelas formigas, que assim danificam muito as plantações; depois que cresce, nada sofre da parte das formigas. Os animais silvestres, como cabras, etc também devastam as folhas; da mesma sorte os cavalos, bois, ovelhas; eis porque as plantações devem ser cercadas de sebes ou paus para que os animais não possam aproximar-se. As raízes são apetecidas pelas abelhas, coelhos e outros animais do Brasil. Esta planta, embora seja privada dos ramos e folhas, ficando ilesa a raiz, não sofre detrimento algum. Para perfeito crescimento desta raiz, requer-se o espaço de um ano; pode todavia, urgindo a necessidade, ser arrancada e usada, no sexto mês da plantação; no entanto, é com pouca vantagem, porque dá menos. Segundo a fertilidade do solo, onde é plantada, produz esta planta duas, três, quatro e até vinte raízes. Cada raiz chega a medir meio pé e até dois ou três; sua grossura, no seu pleno desenvolvimento, chega a igualar a do braço ou perna humana. Esta raiz pode durar, dentro da terra, até três anos; às vezes, porém, no segundo, já se corrompe e apodrece; por isso, no máximo se deixa ficar um ano e novamente se planta por meio de talos. Tira-se a raiz madura; do seu caule formam-se talos para nova plantação; a raiz extraída apenas três dias pode ser conservada, porque apodrece; apodrecida exala mau cheiro. Quanto mais depressa se reduz à farinha, melhor. Como se faz a farinha. A raiz extraída é descascada com uma faca, da casca (cutícula) exterior, que facilmente pode ser raspada; em seguida é lavada em água pura. Depois é submetida pela mão a uma roda, que mede de diâmetro quatro ou cinco pés, preparada para esse fim, tendo, uma superfície convexa, armada e de uma lâmina aguda de cobre com muitos furinhos. Esta roda é movida por dois homens e assim rala a raiz e as raspas caem num depósito sotoposto, Esta roda chama-se Ibecem babaca, na língua dos indígenas e em português Roda de farinha. Os indígenas, como têm poucos aparelhos, raspam essa raiz descascada com um ralo, gastando longo tempo e muito esforço. O depósito, que recebe as raspas, chama-se Mieecaba na linguagem dos indígenas e coche de ralar Mandioca, em português. Assim ralada e moída esta raiz é lançada a um saco, feito de cascas de árvores, preparado como cesto, tendo uma largura de cerca de quatro dedos, de figura cilíndrica; na linguagem dos indígenas, chama-se Miamiama, em português Espremedouro de Mandioca; este saco é lançado a uma prensa chamada Tiamicaba, pelos indígenas e prensa, pelos portugueses. Esprema-se então o suco até