História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

Página 62


A raiz cozida com carne de galinha ou outra dá uma tintura semelhante à do melhor açafrão e produz um bom sabor. Car. Clus. julga ser a Bixa de Oviedo Exoticorum, lib. III, cap. 20. Nota. Fr. Ximenes descreve cuidadosamente a mesma planta, na classe das árvores. Achiotl, diz, chamada por alguns Changuaricam e por outros Pomaquam, é uma árvore semelhante à laranjeira pelo seu volume, tronco e figura; as folhas são semelhantes ao elmo pela figura, aspereza e cor. O tronco, casca e ramos são de cor um tanto fusca tom tendência ao verde; a matéria é espinhosa e cândida. Dá flores grandes, em forma de estrelas, com cinco folhas distintas de cor branca, que tende. para o vermelho. Os frutos se assemelham aos cálices das castanhas (Castanea), tendo a forma e o volume das amêndoas (Amygdalus) ainda verdes; são quase quadrangulares ou antes divididas, no sentido longitudinal, em quatro linhas protuberantes, os quais, quando amadurecem, se abrem e mostram certos grãos muito vermelhos, semelhantes a grãos de uva, porém mais redondos. Nasce, nas regiões calmosas, como Guaxaca, Teguantepec, Huazaqualco, nos lugares mais secos do que úmidos. Refrigera, no terceiro grau, com certa qualidade secativa e adstringente. Os bárbaros dão muito apreço a esta árvore e a cultivam, junto de seus tugúrios; verdeja o ano inteiro; produz um fruto. Sua matéria costuma ser cortada, porque é útil para atear o fogo como o sílex, fazendo a fricção; a casca é boa para o fabrico de cordas e amarras, que são mais fortes do que as de cânhamo. Da semente se fabrica uma tintura escarlate, de que fazem uso os pintores e tintureiros, muito apreciada. É também útil, em medicina, porque bebida com água da mesma temperatura ou empregada externamente mitiga os ardores febris; sustem a diarréia de sangue; desfaz tumores e abcessos, por isso se adiciona com vantagem às bebidas refrigerantes e alimentos. Costuma-se adicioná-la a uma bebida delicada, feita de cacau, para refrescar e dá boa cor e bom gosto. Mitiga dor de dente produzida pelo calor; provoca a urina; mitiga a sede, não deixando de haver pessoas que a misturam com os alimentos, em vez de açafrão. Fabricam do fruto a tintura da seguinte maneira: tomam grãos bem maduros é os lançam em água quente e do que fica depositado, preparam tijolinhos, como se faz com o Anir. Essa tintura é muito pegajosa e tenaz, de sorte que qualquer coisa manchada com ela nunca perde a cor. É um pouco adstringente, por isso misturada com resina cura sarna e feridas: fortalece o ventre e com as cascas retém a diarréia. Misturada com cacau aumenta o leite das mulheres e faz com que o chocolate, embora tomado em grande quantidade, não faça mal; graças a seu auxílio é digerido facilmente, sem dificuldade de digestão; misturada com urina tinge o linho com tanta fixidez, que não pode ser mais tirada. Estas coisas diz aquele. Faz menção desta planta Oviedo, lib. VIII, cap. VI.A tintura fabricada com esta semente é importada em alta escala, das ilhas e do continente da América; chama-se vulgarmente pelos ingleses e belgas, Orellana; os bárbaros uns lhe dão um nome; outros outro. Os que habitam a região do norte lhe dão o nome de Roucu (nome que convém com Urucu); os insulares para elegância tingem com ela a pele. Convém observar que duas espécies de tintura por nós são importada: uma simples e perfeitíssima, totalmente coccínea, que serve para artifício (pintura de pele) das mulheres; é uma cor elegantíssima e persistente; outra misturada com resinas, em forma de bolas, a qual julgo que se ajunta o suco da raiz. Dá uma cor antes de açafrão do que vermelho; penso que seu uso não é tão seguro, nos alimentos ou como remédio.

CAPÍTULO IV Comanda guira. Araca iba. Arbusto anônimo. Outro. Iva. COMANDA GUIRA (termo indígena). Arbusto ou arvorezinha que produz feijões. Sua casca é verde; o tronco, liso e frágil; nos galhos se encontram muitos râmulos erguidos, medindo dedo e meio de comprido, diretamente opostos, porém, pares alternadamente colocados tendo um deles três folhas oblongas, acuminadas, semelhantes às folhas de salva, alvacentas em baixo, verdes em cima que dão ao tacto a sensação da seda; possuem veias salientes, em outro seis, sete ou oito flores, do tamanho de nossas ervilhas (Pisum), com duas folhas voltadas para cima, dentro de um invólucro, e uma para baixo, sendo esta a maior. Estas flores são de cor lútea e a folha maior, voltada para baixo é cortada, em toda superfície, por veias vermelhas. Em seguida, vem silíquas achatadas e um pouco contorcidas, contendo cada uma quatro grãos de feijão, brancos, um pouco menores do que nossas ervilhas. Cozidos têm bom sabor e são laxantes; por isso os indígenas e portugueses fazem muito uso deles; florescem e produzem frutos o ano inteiro. ARACA IBA (termo indígena). Seu fruto é chamado Araca miri; Granaet Pruymen (em flamengo). É um arbusto com tronco, flores e folhas como a árvore "Guayaba"; difere, porém, quanto ao fruto e tamanho. Seu fruto é do tamanho da ameixa (Prunus); quando amadurece, e de cor amarela e tem uma polpa branca com muitos grânulos pequenos. É de bom sabor, adocicado e um pouco adstringente; os bosques se acham repletos desses arbustos; o cozimento