História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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são oblongas, cilíndricas, vermelhas; os pedículos das flores são cróceas e alongados. As flores e folhas constituem um veneno; a raiz é um antídoto contra ele.TREMATE (termo indígena). É arbusto arborescente. Tem a figura da romã (Mali punici) com a casca do sabugueiro (Sambucus), com um tronco branco e uma medula. As folhas são verdes escuras, não grandes, do comprimento de dedo e meio, aderentes aos galhos, sem pedículos; ásperas, com muitas veias salientes. Na ponta dos ramos, produz muitas e grandes flores em forma de umbela, de cor escura com mescla de purpúreo. No meio, se encontram muitos estames amarelados como as flores da alface silvestre (Hieracium), terminando-se igualmente em papos; reproduzem exatamente o odor do estoraque (Styrax), como se dá igualmente com as folhas trituradas. Depois das flores vem dos capítulos paposos uma semente mínima,. redonda, preta, muito menor do que a da papoula (Papaver). Os indígenas fazem uso das folhas socadas contra dores de olhos ou vermelhão.ARBUSTO ARBORESCENTE. (O autor dá esta imagem, mas não declara o nome). Tem uma casca griséia, folhas colocadas altera adamente, carinadas, com a figura de uma canoa; na extremidade são dentadas; são verdes alegres, lustrosa, dotadas de umas veias elegantes oblíquas. Na extremidade dos ramos, se acham umas flores reunidas em forma de espiga; a espiga, ainda estando às flores fechadas, é de cor sangüínea elegantíssima; depois torna-se amarela. As flores ao abrir-se são amarelas, compostas de cinco folíolos, a cada folha da flor se acha sotoposta uma folha acuminada, pálida; no meio da flor, estames lúteos unidos. A flor é de suave aroma, como nossos "Keiri", porém, é maior.

CAPÍTULO IIIU rucu. Planta da qual se faz a tintura chamada vulgarmente orelan. URUCU (termo indígena). Arbusto de tronco branco como o Corylus e de casca fusca. Tem as folhas alternadamente colocadas em pedículos de três, quatro ou cinco dedos de comprido ou mais curtos; oblongas, cordiformes, como se pinta, do comprimento de cinco, seis, dez e até doze dedos, tendo um nervo no sentido longitudinal e veias oblíquas salientes, inferiormente; são de cor verde alegre. Na extremidade dos ramos, em curtos pedículos, nascem flores dispostas como uvas; cada uma é do tamanho de uma rosa com cinco folhas encarnadas claras; no meio acha-se um grande número de estames lúteos, de ápice purpúreo; tem um aroma apenas perceptível. Em seguida vem o fruto, isto é, uma silíqua do formato do myrobalanus ou piramidal, redonda, do comprimento de dois ou três dedos do tamanho da ameixa (Prunus). Esta silíqua é de cor verde, quando não está madura; madura, torna-se vermelha; é totalmente híspida, por causa de fios proeminentes, mas não aculeada. Em cada silíqua, acham-se mais de trinta ou quarenta grãos, fixados a seu pedículo; cada qual é da figura cônica aguda ou de uma pequena ervilha (Pisum), mas como que comprimido pelo dedo lateralmente. A cor do grão é de um vermelho vivo (à semelhança de uma turquesa vermelha) e lustroso; neles se acha um suco de tal natureza que ao ser tocado mancha a mão com uma cor vermelha carregada. Os grãos novos não são duros, mas são como o grão da maçã; dentro tem uma polpa alvejante; por fora tem um pontinho argênteo. A silíqua madura se abre espontaneamente; os grãos secos tornam-se de cor vermelha escura, todavia contém uma tintura, podendo ser usados novos ou secos. Triturados nágua simples ou distilados dão uma tintura vermelha viva, que serve, sendo bebida, contra vários venenos: é de bom sabor, sub-amara e tem um quê de aromático. Os indígenas tingem exteriormente seus pratos e cabaças, fabricados de cascas de abóboras, com esta tintura.