História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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com as mesmas propriedades purgativas porisso deve-se observar com cuidado a diferença dessas plantas, porque se assemelham, nas folhas e outros característicos.ERVA (O autor não indica o nome). Tem o caule da beldroega (portulaca), redondo, nodoso, vermelho, que se arrasta pela terra à qual se fixa por meio de fibras. Junto de cada nó, achamse aderentes cinco ou seis folhas com a figura das folhas de alfazema (Lavendula), são, porém, grossas e suculentas como a beldroega. Entre as folhas em cada pedículo, nasce um flósculo purpúreo claro, constituído por cinco folíolos, curvados para baixo, com muitos estames da mesma cor, dispostos em círculo, que ainda contém, no meio, um estame verde oval Deita raízes, uma a uma de cada lado, da grossura da pena de pato, rodeadas de inúmeros filamentos finos; indo-se alastrando o caule, fibras que dele procedem em vários pontos se fixam à terra.

CAPÍTULO XIX Várias espécies de Quiya. QUlYA (termo indígena). Pimenta (português). Existem muitas espécies desta planta, deferin dose somente na figura do fruto e assemelhando-se no demais. A primeira chamase Pimenta Malaguetta (a qual dizem que primeiramente veio de Angola); os indígenas a denominam Quiyaqui. Cresce em forma de arbusto até à altura de três ou quatro pés; possui um caule lenhoso, que se expande em muitos galhos, que têm folhas opostas ou no pedículo de alguma folha, novamente se acham dois folíolos opostos. Cada folha tem seu pedículo tênue, pouco comprido, de figura oblonga, acuminado, dotado de nervo e veias oblíquas. Junto da origem das folhas, em longos pedículos, em número de dois, três ou quatro justapostos, nascem flósculos inodoros formados por cinco folíolos, de cor branca pálida, com outros tantos estames, no meio, os quais são cinzentos cerúleos. Vem depois o fruto cilíndrico-piramidal, da grossura da corda maior da viola, de côr coccínea, quando está maduro; este fruto se acha cheio de uns grânulos arredondados, chatos, de sabor picante; muito mais picante do que os das outras espécies. . Nota. Para não haver engano, observe-se que esta se difere da que produz o conhecidíssimo aroma Malagueta, que nossos belgas denominam grayn, o qual é importado da África, porque não se assemelham, nem quanto à semente, nem no formato da planta; a semente desta malagueta se acha em lobos em forma de Ireos e dizem que as folhas se assemelham à de Gladiolus.A segunda espécie, chamada pelos indígenas Quiya cumari, cresce com a mesma figura que a precedente, as folhas são, porém, um pouco maiores e isoladas; não difere a flor, nem o formato do fruto, excetuando-se que o desta é maior e vermelho carregado.A terceira espécie se chama Quiya apua; os portugueses a denominam pimenta redonda. É do tamanho de nossa cereja ácida, de côr rubra; encontrase também uma outra espécie com a diferença de que o fruto só tem a metade do tamanho, não excedendo o núcleo da cereja; é de côr vermelha mais clara ou até amarelada.A quarta espécie se chama, na linguagem dos indígenas, Quiya uca; em português, Pimenta grande ou pimentões. Tem as folhas mais estreitas e longas do que a segunda; possui um fruto do comprimento de três dedos, cilíndrico, pontudo, vermelho, quando se acha maduro. Existe ainda uma outra, cujo fruto se inclina para baixo como gancho. Os indígenas socam esta pimenta com sal e denominam esta mistura Iuquitaya e com que temperam a comida, na ocasião da refeição, do mesmo modo que fazemos uso do sal. E um tempero bom e de sabor agradável. Misturam-na com farinha e peixe cozido, tiradas as espinhas; a esta mistura denominam Pira quiya e dela fazem uso em viagem. Tem bom sabor e se conserva vários dias. Nota. Não damos a imagem desta planta, por ser muito conhecida dos botânicos e ser