História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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flor se acha fixada a um pecíolo curto e aberto se inclina para baixo; quando fechada se inclina para os lados, em linha reta; e inodora. Nota. Esta planta é da mesma espécie que Maguey ou Metl dos mexicanos; da qual se encontram várias espécies, na nova Espanha, a cujo respeito assim diz Fr. Ximenes: a primeira espécie dá umas folhas semelhantes ao Aloés, porém muito maiores e mais grossas, espinhosas de um e outro lado, indo-se terminar numa duríssima e agudíssima ponta. Cresce o caule às vezes até à altura de uma árvore medíocre e é duplo; na sua ponta, nascem flores lúteas, oblongas, em forma de estrelas, na sua ponta, produzindo com o correr do tempo uma semente semelhante ao Asphodelus ou Batatarium (").Sua raiz é grossa, curta e coberta de fibras; propaga-se por meio de rebentos ou renovos, que saem ao redor da planta principal. Vinga em qualquer terreno, embora prefira o terreno cultivado e o clima frio; não sofre com a inclemência do tempo, nem se murcha em conseqüência da seca. Encontra-se, em grande abundância, na Nova Espanha e se os homens vivessem com uma frugalidade conveniente, esta parece que por si só forneceria o necessário, além de outros inúmeros usos convenientes. Em primeiro lugar, oferece ótima cerca para jardins e herdades; as folhas servem como telhas para defender da chuva; os caules, de estacas; os nervos das folhas e fibras têm o mesmo emprego que nosso linho, cânhamo ou algodão, porque dos mesmos se fabricam fios, panos e outras telas.Os espinhos são empregados como cravos, agulhas, alfinetes, estiletes, verrumas para perfurar orelhas; com eles os bárbaros se feriam, na prática do culto supersticioso dos deuses; nem deixavam de ter utilidade para instrumentos bélicos. Quando se ferem os rebentos desta planta com uma navalha de pedra, emana um certo licor em tanta quantidade, que de uma só planta (cousa admirável!) às vezes extraem cincoenta ou mais arrobas ("). Deste licor fabrica-se vinho, vinagre, mel e açúcar; o licor é por si doce, fervido torna-se mais suave e espesso, vindo depois a solidificar-se em açúcar. Do mesmo suco fabrica-se um vinho, adicionando-se água e fazendo-se mistura de partes de laranjas ou melões e outras cousas para que mais facilmente produza a embriaguez, porque os bárbaros são muitos sujeitos a este vício, como se eles se arrependessem de ser homens e quisessem descer ao nível dos brutos. Do açúcar fazem vinagre, dissolvendo-o nágua e expondo-o ao sol, durante nove dias; o suco provoca a menstruação das mulheres, abranda o ventre; purifica o rins e a bexiga; dissolve pedras e purga os uréteres; dizem que o mesmo, se for fervido com tabaco ou pitzitlxodritl ou matlaxochitl, cura feridas. A folha do maguey assada e exprimida numa escudela, adicionando-se um pouco de nitro bem triturado, aplicada a feridas recentes faz desaparece-las, de maneira que quase não fica vestígio. As folhas e o caudex, cozidos em forno subterrâneo, servem para se comer, tendo o sabor do diacitrum. As folhas tostadas constituem uma boa aplicação contra o espasmo e mitigam as dores (principalmente se o suco é tomado quente,) embora provenham de enfermidade venérea, porque anestesiam o sentido do tacto. Estas cousas diz ele. Alguns escritores, que fizeram comentários acerca de cousas americanas, fizeram menção desta planta, Gomara, Acosta e outros, os quais concordam com o que diz Ximenes, conforme o Dr. Francisco Hernandes; deve-se ver também Carlos Clus., na História das Plantas Raras, livro V. Deve ser uma planta muito diferente da que descreve D. Joaquim Camerarius, cuja imagem ele apresenta, no Epítome das plantas, debaixo do nome de Aloés americana, porque afirma que as folhas têm um suco amargo e outras cousas que não convém com a descrição acima dada. Creio que esta de Camerarius deve ser o aloés verdadeiro ou ao menos alguma de sua espécie, porque