História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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mais novas, são moles, levemente hirsutas, um pouco encanecidas exteriormente. No caule, acham-se muitos ramos isolados, solitários, com folhas semelhantes a eles anexas. Esta planta produz flores abundantes, junto do pedículo de cada folha, em variado número, mas sem pedículos próprios; cada uma das flores consta de cinco folíolos e representa perfeitamente uma estrela de cinco ângulos, em cujo centro se acha um estame obtuso, não elevado, com uma pequena coroa; estas flores são lúteas-pálidas, um tanto escuras no interior; inodoras. Daí procede um fruto oblongo, oval, acuminado na extremidade, do tamanho de um ovo de galinha ou de pato, de um verde-amarelado, quando maduro, tendo uma casca mais grossa do que a da laranja, guarnecido exteriormente de muitas proeminências, como espinhos.Este fruto derrama um suco lácteo, glutinoso, de sorte que pode ser empregado como glúten; -quando se acha maduro, ele se abre, apresentando dentro umas sementes alongadas, pretas, dispostas em ordem insigne; cada grão de semente tem um floco como que de penas, de uma cor argêntea, muito lustrosa. Esses flocos são unidos, na extremidade interna do fruto, e a parte superior da cavidade do fruto mostra as sementes; a inferior, porém, manifesta os flocos argênteos, cousa deliciosa de se ver. Esta planta tem um cheiro forte e copioso quantidade de leite alvíssimo.

[PÁGINA 21] CAPÍTULO XI Sezamum.Anônima. Curuba. Jaee. Cururuape. SEZAMUM, Gangila (termo do Congo). Girgilim, (em português). Não possui nome especial, na linguagem dos indígenas, porque não é planta natural desta região, mas foi trazida da África pelos portugueses. De uma raiz tenra, reta, dotada de muitos filamentos, vermelha por fora, branca por dentro, procede um caule reto, quadrado, mole, com folhas alongadas, não largas, tenras, da cor do "Atriplex" armolar branco. Estas folhas são como que salpicadas, na parte inferior, de uma farinha; são colocadas de uma e outra parte, algumas vezes opostas duas a duas ou então alternadamente.Produz flores brancas, que caem depressa, e têm a figura de uma campânula; em seguida vêm umas síliquas eretas, anexas ao caule (não aos ramos), de cor verde, quadrangulares, contendo copiosa semente, pequena, branca, cordiforme; tornam-se, porém, fuscas, quando maduras, se abrem espontaneamente de sorte que a semente cai. Nota. Frei João de Santos, na História da Etiópia Oriental, liv. I cap. 4, diz que, em todas estas províncias, se encontra muito gergilim, candidíssimo e ótimo, do qual se fabrica um óleo,, que se come e se usa vulgarmente, como acontece com o de oliveira, em Portugal. Socam-se as sementes, num vaso de madeira grande, como se fosse um almofariz. Os cafres (assim se chamam os negros daquela parte) lhes dão o nome de Chuni e os portugueses, de pilão. Depois de bem socada e reduzida a uma massa, é imprensada com as mesmas peças de madeira, e então procede um óleo muito claro. Os resíduos, que ficam, são comidos pelos negros com milho cozido, em vez de manteiga. Consulte-se Prospero Alpino, Plantas do Egito, cap. 32. ERVA (o autor não dá o nome, mas apresenta a imagem). Procede de um caule redondo, na parte inferior nodoso ou tuberoso, piloso, e se eleva até à altura de um pé, expandindo-se nalgunsrâmulos. Suas rolhas são alternadas, oblongas, com dentes um tanto grossos, de cor verde pálida, e pouco pilosas. Na sumidade do caule e extremidade dos râmulos, nasce uma flor amarela, do tamanho de um ducado, com cinco folhas e uns estames lúteos, no meio; a raiz é pequena e toda a planta não tem odor. C U R U B A (termo indígena). É uma espécie de Cucúrbita (abóbora). Primeiramente se apresentam duas folhas como as do cucumis (pepino), mutuamente opostas, do comprimento de um dedo, da figura de uma língua. Do meio delas procede um caule sarmentoso, rasteiro pela terra ou escandente como as cucúrbitas, agarrando-se com seus capréolos (gavinhas). As rolhas se acham, como os pepinos, fixadas a longos pedículos divididas em secções; hirsutas inferiormente, como o caule e o pedículo, alvacentas; na parte de cima, são verdes e glabras. Com o correr do tempo, um caule glabro, estirado e verde se alastra por larga distância, apresentando a interstícios de meio pé, um pedículo do comprimento de três ou quatro dedos, um pouco curvo, ao qual se acha fixada uma folha glabra, verde, lustrosa, circinada, tendo sete ou oito ângulos salientes; do comprimento de seis ou sete dedos e outros tantos ou um pouco mais de largura. Junto ao pedículo de cada folha, brota uma clavícula longa, torcida, que se adere fortemente às árvores vizinhas ou às estacas fincadas. Entre as folhas, de um e outro lado, nascem flores, nos próprios pedículos; o botão (rudimentum) da flor é um corpúsculo cônico, verde-amarelado, terminando em cinco folíolos verdes-amarelados, curvados para baixo. Deste corpúsculo brota uma flor grande, com folhas grossas, glabras por fora, hirsutas por dentro; esta flor é