História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 38

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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água, levantando e atirando, estilhaços, que foram lançados sobre o rosto do sr. van Ceulen e de alguns oficiais de marinha, que estavam perto dele, mas sem causar-lhes dano.Nessa mesma tarde, deram ordem para pôr em terra os morteiros, granadas e bombas, com outras munições de guerra, pois queriam utilizar-se delas pela manhã. À noite, avançaram bastante com aproxes para o forte, de sorte que no dia seguinte atiraram violentamente com mosquetes contra o inimigo, e este lhes respondeu igualmente com canhão. Os nossos trouxeram duas colubrinas de bronze para terra, atirando cinco e seis libras de ferro, e deram alguns tiros com elas da praia contra o forte, sem construir bateria. Já havia oportunidade para os morteiros, de sorte que nesse dia mesmo foram lançadas seis granadas, mas nenhuma caiu dentro do forte; e como a duna tinha pouco mais ou menos a altura do forte, mandaram fazer uma bateria sobre a mesma, e, para trabalharem nela mais depressa, desembarcaram à tarde 60 marinheiros. No dia seguinte, o inimigo atirou, ainda mais fortemente, com canhão e mosquetes. Os nossos não tinham trazido canhão, a não ser os que existiam nos navios, mas felizmente foram encontrados nas duas caravelas não somente dois bons de bronze, atirando 18 libras de ferro, mas também as suas carretas, de sorte que imediatamente se arranjou meio de desembarcá-los e montá-los em uma bateria, próximo aos morteiros; depois do meio-dia, foram atiradas quatro granadas, mas apenas uma caiu dentro do forte.À tarde, foram mandados para sua terra, com alguns presentes, os emissários dos tapuias, que já estavam a tempo com os nossos, para comunicar a sua chegada e convidar os selvagens a vir ter com eles, a fim de se juntarem ás forças e expulsarem do país os portugueses.À noite, trabalhou-se com ardor nas três baterias, preparando os gabiões, os quais ficaram levantados e cheios de terra; foram depois trazidos os canhões, de sorte que pela manhã estavam na maior parte prontas as baterias.No dia seguinte, fizeram intimação ao forte por um tambor; mas o governador Pedro Mendes de Gouveia respondeu cortesmente - que recebera o forte do rei seu senhor, e mil vezes preferiria morrer do que entregá-lo a outrem.Depois de meio-dia, começaram os nossos a disparar os canhões das três baterias, e os artilheiros foram tão ativos e certeiros, que, após três horas de canhoneiro, algumas seteiras do forte ficaram tão arrebentadas, que os seus canhões se achavam descobertos e outros completamente desmontados.Pararam então um pouco com os tiros, mas ás quatro horas recomeçaram a atirar tão a miúdo que os parapeitos de dois baluartes principais estavam em ruínas e a guarnição ficava exposta. De quatro granadas, uma caiu no meio do forte e viram-se-lhe as pedras e estilhaços subir ao ar; ao escurecer, pararam com o canhoneiro. O inimigo, nesse ínterim, não deu um tiro de canhão e apenas poucos de mosquetes.À noite, foram ainda conduzidos para terra dois canhões, atirando 12 libras de ferro, com os seus pertences, para serem colocados noutra duna,