Os nossos, achando-se tão fracos de tropas em uma tal praça, e compreendendo que facilmente poderia vir muita gente dos povoados circunvizinhos, sabendo também quão mal tripulados haviam deixado os navios grandes, não acharam prudente demorar-se mais tempo ali, e, conduzindo para bordo o que tinha algum valor, trataram de embarcar-se; no dia seguinte, levaram consigo os prisioneiros e nove dos navios inimigos e incendiaram os restantes; à cidade não fizeram mal algum, nem lhes era fácil fazê-lo, porque eram casas fortes de pedra. Parece que o governador, notando o pequeno número da nossa gente, procurava detê-la, até que, recebendo reforço de Merida e dos lugares adjacentes, pudesse cair sobre os nossos na cidade deserta. Foi um dos feitos mais ousados e praticado com tão pouca gente, pois, se os espanhóis, quando os nossos os atacaram com tanto ardor no mercado, tivessem ido para cima da sotéa da igreja, teriam ali um parapeito de pedra e matariam os nossos atirando-lhes pedras de lá; mas não ousaram enfrentar por mais tempo a coragem dos neerlandeses. Foram, no entretanto, valentes no princípio, não excetuando os padres; quando a nossa gente desembarcou, eles poderiam facilmente repelí-la, mas três dos seus chefes mais valentes caíram mortos pelas balas dos canhões das chalupas, e isso produziu confusão e consternação entre eles.A cidade de S. Francisco de Campeche é bem situada, porque os navios grandes, por ser a costa plana, não ousam aproximar-se além de 3 ou 4 léguas; e é também bem construída, como se pôde ver pela gravura. Tem três igrejas, a saber: a igreja grande, a igreja de S. Romão e mais uma nova, que chamam de los Remédios, e fora da cidade um belo convento chamado de S. Francisco, do qual parece que a cidade tirou o nome; chamam-na geralmente de Campeche, por causa da madeira de tinturaria, que é agora bastante conhecida na Europa.A nossa gente poderia ter feito ali mais alguma coisa, se dispusesse de mais forças; mas faltava-lhe agora o navio Zutphen, no qual havia 60 soldados, e que, como já foi dito, se perdera da esquadra.No dia 18, chegaram onde estavam os navios grandes, e a gente foi re embarcada, cada um no seu lugar competente, e as fazendas capturadas também foram trasladadas para eles; aí vieram alguns espanhóis, para comprar as barcas trazidas, depois que fossem descarregadas, e ficaram com quatro e depois mais uma, e os prisioneiros foram soltos nas outras quatro, resgatadas por último.No dia 24, pela manhã, fizeram-se à vela, e tomaram o rumo do norte, tendo à noite vento da terra e de dia do mar; viram, ao meio-dia, que a latitude era de 20°, 45', e calcularam estar à tarde em Sisal. Mas, ainda que encontrassem na sondagem cinco e quatro braças de profundidade, não viram terra alguma; porque, segundo a observação dos espanhóis, de Sisal se estende umas oito léguas pelo mar um Recife, onde ha apenas três pés de profundidade.No dia seguinte, acharam-se na latitude de 21°, 11', e seguiram pouco a pouco, encontrando sempre fundo até ao último de Agosto.No dia 10 de Setembro tinham a latitude de 26°, 20', ganharam depois disso a latitude para o sul, e no dia 15, estando na latitude de 26°, acharam
História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 38
Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional