História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 38

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

Página 331


Tendo-se colocado a gente em ordem, marcharam imediatamente para frente; os dois botes grandes, cada um com um canhão, remavam perto da tropa, junto à praia, e atiravam sempre que era mister, causando grande dano ao inimigo.As chalupas Nachtegael e Gijsselingh navegavam também junto à costa e também atiravam.Antes que a nossa gente estivesse toda desembarcada, o inimigo veio com duas companhias, de infantaria e de cavalaria, para repelir os nossos, mas teve que fugir apressadamente; de sorte que os nossos avançaram até uma trincheira, da qual rapidamente o expeliu, e logo depois de uma outra O inimigo retirou-se para o seu terceiro reduto, onde tinha três canhões, e deu uma forte descarga sobre os nossos com as ditas peças e mosquetes; mas os nossos, atacando-o valentemente, tomaram o reduto com grande perda do inimigo, e atiraram os canhões para fora do baluarte.Os nossos marcharam em seguida para o mercado, onde o inimigo se fortificara mais, porque a esse vão dar seis ruas, e o encheram com um baluarte de cinco pés de altura e com seteiras; na praça estavam montadas 2 peças de bronze e 10 de ferro.O inimigo pretendia resistir aí; mas a nossa gente atacou-o com tanto valor, que apenas pode descarregar uma vez os canhões; manteve-se, entretanto, resistindo, até que foi repelido com piques e espadas, morrendo uma grande parte, e também alguns dos nossos, sendo, contudo, de feridos a maior parte da perda sofrida pelos nossos. Alguns dos espanhóis fugiram para cima de umas casas, que tinham sotéas, assim como para uma igreja que estava no meio da praça, e deram muito que fazer aos nossos, para tirá-los dali. Segundo a declaração dos prisioneiros, havia na cidade, quando os nossos a atacaram, 350 espanhóis, 50 mulatos e negros, além de uns 1.000 índios. Os nossos fizeram 20 prisioneiros, um dos quais mandaram ao governador don Juan de Barros, que fugira da cidade para o convento de S. Francisco, situado fora da cidade, para saber se queria resgatar a cidade, a fim de que não fosse incendiada; mas ele respondeu - que isso não lhe competia, e que a burguesia podia fazer o que achasse melhor.Os nossos encontraram em frente à cidade 22 navios, barcas e fragatas, a maior parte vazios e alguns carregados com couro e cacau; as fazendas encontradas foram reunidas na igreja. No dia seguinte, foi mandado novamente um emissário ao governador, mas não voltou; os nossos trouxeram depressa couros e madeiras para as barcas capturadas, afim de levá-las para bordo, assim como no dia seguinte embarcaram algumas caixas com cera e 11 peças ou colubrinas. No dia 16, enviaram novamente o secretario Jacob Davits ao governador, para tratar do resgate de fogo da cidade e da soltura dos prisioneiros. O governador recebeu-o muito cortesmente, mas respondeu, por missiva, que podiam fazer o que quisessem da cidade; que ele não daria um real, nem pela cidade, nem pelos prisioneiros. Segundo os prisioneiros disseram, havia proibição, por parte do rei, sob pena de morte, de resgatar cidades, gente ou navios.