estavam dentro. Depois, não quiseram tomar a bordo o almirante, e mataram também o marquês de Salinas, que já estava dentro (outras cartas dizem que o marquês pediu muito e tudo fazia crer que pudesse ir na chalupa, mas não o deixaram entrar, e morreu com os outros), para roubar uma caixa com jóias e cadeias de ouro do marquês e uma outra do almirante, e os repeliram de bordo, submergindo-se o navio imediatamente. Os da chalupa não tinham alimentos, nem água, nem sabiam onde se achavam, quando esse pequeno navio lhes apareceu por acaso, e tomou-os a bordo. Chegando a Campeche, foram bem recebidos, mas Deus descobriu toda aquela perversidade; o contramestre Francisco Granillo e dois irmãos Los Farfanes brigaram por causa da partilha das jóias e do ouro. Tendo isso chegado aos ouvidos da autoridade, Granillo e alguns outros foram presos, e os dois irmãos fugiram; sendo postos a tortura alguns, descobriram todo o crime, como já foi referido, sendo o capelão N. N. de Cardenas muito acusado por todos, etc. Depois disso, veio a notícia de que o navio de Balthasar de Amesquita dera à costa em Tabasco; li a sua carta, em que disse ter visto um navio com uma luz, o qual, tendo dado um tiro, desapareceu, de sorte que ficou convencido de que se submergira. A outra fragata, que aportou em Tabasco, disse ter visto a capitania sem mastro e cheia de água. e ordenara à fragata que se mantivesse perto, o que teria feito, se não fora o forte vento do norte tê-la obrigado a seguir para a costa. Dá más notícias da capitania e de toda a esquadra e ainda piores do navio de Alonso Suárez, que perdera os mastros e estava cheio de água. Depois disso, só se acharam nesta costa da velha Vera-Cruz o mastro grande e gurupés, que eu mesmo vi; pelo que se supõe que toda a esquadra ficasse destruída, com exceção do navio que entrou neste porto, o qual, não sabendo onde se achava, foi dar perto de Vila Rica, sendo milagrosamente trazida para dentro. A Havana chegaram apenas o navio de Francisco Nicolas e El Rosário, de Balthasar de Espinosa, sendo os outros considerados perdidos; os dois, mencionados acima, andaram à matroca por 60 dias".Don Luiz escreve ao pai, de Vera-Cruz, em 1632, sem declinar dia e mês: - "Não há duvida de que a perda da esquadra há de produzir na Bolsa de Sevilha a maior dificuldade até então sofrida, pois é realmente a esquadra mais rica sabida deste porto, especialmente a capitania e a almiranta; visto que, além do registro, o qual importava em muito, havia uma incrível quantidade de ouro e prata fora dele, pertencente ao marquês de Salinas, ao general e ao almirante, que haviam chegado da China, e de muitos outros. Antes e depois da catástrofe, houve aqui muitas provas da cólera divina: primeiro, um terremoto, começando pelo mar, de sorte que os navios o sentiram e algumas casas ruíram por terra; a esquadra saiu depois, tendo na véspera enterrado o general, o qual faleceu tão repentinamente, que não ponde fazer testamento; e. poucos dias depois que saíra irrompeu tão violento incêndio na ilha de S. Juan de Lua, que mais de 170 casas ficaram reduzidas a cinzas. E, subitamente, chegou um pequeno navio de Campeche, trazendo a triste notícia da perda, a qual muito receavam os que conheciam os perigos do golfo e os ventos furiosos do norte, que sopram ali por aquela época, pois a esquadra saíra no dia 14 de
História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 38
Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional