ela um grande tesouro, calculado em dois milhões. Outro navio arribou ao Rio de Lagartos, dois outros a lugares diferentes, e dos restantes nada se sabe. Foi a maior riqueza que jamais saíra das índias, e dizem mais que também se perdeu um navio do Peru com quatro milhões; são misteriosos decretos de Deus, que parece querer a ruína deste reino", etc.Francisco Tirolmonte escreve a dona Maria Rodriguez: - "México, 20 de Março de 1632. Deve já ser sabido na corte o desastre da esquadra, que partiu daqui para Castella no dia 14 de Outubro ultimo, e como, em viagem para Havana, lhe sobreveio, na véspera de Todos-os-Santos, uma tempestade na costa de Campeche. A capitania e a almiranta naufragaram, e, com elas, outros navios que levavam a prata de S. Majestade e dos particulares, em maior quantidade do que jamais foi embarcada nas índias. Dos navios, que se destinavam a Espanha, escaparam apenas dois que chegaram a Havana em péssimas condições, um que voltou a Vera-Cruz e outro que encalhou e do qual salvaram a maior parte da prata, o que não tem grande importância, comparado com o resto que se perdeu. Imagine, dona Maria, como isso deve afligir ao nosso rei, e a dor que há de causar ao conde-duque e a toda a corte," etc.Juan de Aramburu escreve ao pai, de Vera-Cruz, em 28 de Março de 1632: - "Fizemo-nos à vela deste porto no dia 14 de Outubro, e nos sobreveio tão grande temporal com vento norte, que nos julgamos perdidos, pois os nortes aqui são piores do que os vendavais na Espanha; e, como cada vez se tornasse pior voltamos ao porto, o que foi uma grande graça de Deus porque é uma barra perigosa para barcos, quanto mais para um galeão (em outra carta vê-se que esse navio se chamava La Biscaiña Grande). Perderam-se nessa tempestade dois galeões do rei, a capitania e a almiranta e dois navios de particulares, e a tripulação mais luzida que jamais veio aqui, especialmente muitos biscainhos e os melhores soldados do rei."Alonso Garzia dei Castillo escreve a dona Beatriz de Herrero, de Vera-Cruz, a 1.º de Março de 1632: - "Na minha carta anterior, referi o desastre da esquadra e que pereceram com ela mais de 2.000 pessoas e tantos tesouros, sendo essa a esquadra mais rica que jamais partiu deste porto."Don Isidoro Mendes de Sequeira escreve ao irmão, de Nueva. Vera-Cruz, em 15 de Janeiro de 1632: - "Aqui chegou de Campeche um pequeno navio e deu notícia de que entrara lá um outro que andava perdido no golfo, o qual trouxe 30 pessoas, que encontrara em um bote. Disseram eles ser da capitania de Miguel de Chazareta, a qual, devido ao falecimento deste, ficou ocupando o lugar de almiranta, e o almirante Serrano o de general; nessa capitania, que, pelo motivo exposto, é agora almiranta. comandava como capitão mais antigo don Andrés de Aristheca, cavaleiro de Santiago. Referiram mais que o seu navio se perdera com umas 500 pessoas; e esses poucos se salvaram, porque (dizem eles) estavam na chalupa que se manteve flutuando quando o navio afundou, e teriam perecido, se não fosse esse pequeno navio que os tomou a bordo. Se isso se desse, seria pequeno castigo pelo seu grande crime; porque, como aquele bom cavaleiro colocasse aquela chalupa atrás do navio, para salvar a quantos pudesse, esses a afastaram e mataram a muitos que
História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 38
Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional