História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 38

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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do barão Schenck, Cloppenburgh e Bijma, nesse ínterim, chegou aos aproxes; e, sendo dado sinal com um tiro de canhão, os nossos atacaram valentemente as trincheiras do inimigo, e conquanto este se portasse a princípio com valor, foi contudo repelido finalmente dos seus redutos e perseguido até junto ao forte, de sorte que os nossos quase entraram nele envolvidos com os mesmos, não o fazendo, por ter o inimigo alcançado a tempo a porta, que fechou, deixando fora uma parte de seus soldados. Destes, alguns, não sabendo para onde se deveriam dirigir, se esforçarem por trepar pelas muralhas do forte e foram tirados dali pelos nossos com piques e fuzis e repelidos pela sua própria gente, que supunha que fossem os nossos misturados com eles (visto como alguns dos nossos também estavam trepando); outros, não podendo entrar ou chegar até ao forte, correram ao redor, caindo-nos nas mãos, e foram aniquilados, e muitos se atiraram n'água, morrendo afogados. Calculou-se que morreram do inimigo uns 100 homens; os nossos tiveram mais de 20 mortos, entre os quais dois tenentes, e cerca de 50 feridos. Voltaram os nossos ao acampamento, e o inimigo logo depois aos seus postos, sem prosseguir, entretanto, em qualquer obra.À noite, nossa gente começou a embarcar e, para que o inimigo não desconfiasse, atirou continuamente com um canhão da bateria até 9 horas. As companhias tinham tirado a sorte, afim de ver quais as que deviam ir primeiro para bordo, e caiu a sorte nas do coronel, dos dois majores, do barão Schenck, Hellingh, Cloppenburgh, Bijma e Coeck; nos aproxes deixaram ainda três companhias, as do capitão Huyghens, Levijn e Everwijn, e no acampamento duas, as de Meppelen e Palmer. Os que ficaram nos aproxes colocaram algumas estacas para fingir sentinelas, pregando nelas mechas acesas, e foram depois para o acampamento e daí para bordo com o coronel. Foi essa uma triste e infeliz expedição, em que os nossos perderam no espaço de cinco dias uns 180 homens, entre mortos e feridos. No dia 12 fizeram-se à vela e no dia 13 chegaram sem contrariedade alguma ao Recife.Tendo a expedição voltado sem haver conseguido coisa alguma, foi novamente posto em deliberação pelo governador e conselho o que se devia empreender agora. Os oficiais do exército propuseram outra vez Itamaracá, e pouco faltou para que esse parecer fosse aceito; mas, ao considerarem que o inimigo, achando-se tão perto, devia estar bem prevenido e muito animado pela expedição infrutífera da Paraíba, não podiam ver probabilidade de êxito por meio de assalto e muito menos, por assedio, pelo que a expedição a Itamaracá foi por ora posta de lado. Finalmente no dia 13 de Dezembro ficou resolvido partir uma expedição para o Rio Grande, com a esperança de que os índios daquela região ajudassem os nossos no assedio do forte e que depois da tomada da praça, indo pouco a pouco para o sul abrissem o interior. Já contamos antes que o commandeur Smient, com o índio vindo em comissão aos nossos e os que haviam morado na Holanda, foi mandado ao Ceará para tratar com os Tapuias que vivem naquela região. Partiu do Recife com o navio Nieuw-Nederlandt e com a sua chalupa no dia 13 de Outubro, chegou perto do Porto Francês ao pôr do sol e seguiu ao longo da costa, ancorando pela meia noite em 13 braças de profundidade.