História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 38

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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maior parte dos aproxes; pela tarde o inimigo começou a atirar com mosquetes, da trincheira que ultimamente fizera, contra a última linha e corpo da guarda, e os nossos julgaram que queriam assaltá-los, pelo que o coronel apressadamente mandou o porta-insígnia, capitão Cloppenburgh, com 50 homens, com ordem de postar-se naquela linha; mas, como o inimigo cessasse de atirar, aquele oficial, contra a ordem, saiu da sua trincheira e avançou sobre o inimigo e lá morreu com dois ou três homens mais. À noite fizeram banquetas nas últimas trincheiras e o inimigo aproximou-se de 8 a 9 braças das nossas obras com uma linha para fora do seu hornaveque, pretendendo, assim parecia, separar os nossos uns dos outros. Toda essa obra tinha uma aparência estranha, e o coronel, ficando alarmado sobre o resultado, achou prudente ouvir o parecer dos membros do seu conselho, a saber, visto o inimigo ter mais tropas que os nossos e aproximar-se até 6 ou 7 braças com seus aproxes e sapas, se era conveniente, com a gente que tinham, continuar os aproxes e ir de tal modo ao encontro dele, até se conseguir o fim desejado. Ao que os membros do conselho responderam: 1º Visto que o inimigo se encontra em tão grande numero e vem ao encontro dos nossos com os seus aproxes, é de crer que procura cortar as nossas linhas; 2º Que não é possível por meio desses aproxes (pois o inimigo os impedia) acercar-se da porta do forte, visto estar provida de bom hornaveque. Também precisavam, para a ocupação e conservação dos aproxes, baterias e corpos de guarda, empregar continuamente seis ou sete companhias (o que era impossível) e atacar igualmente o inimigo com aproxes de ambos os lados, enquanto os mesmos julgam obter reforços, como realmente recebem todos os dias, pelo rio, em botes; 3º Demais, o inimigo tem tão grandes canhões de bronze e de ferro, que não é de presumir que os possamos desmontar com as nossas peças; 4º Compondo-se a nossa força apenas de 1.500 soldados, não é possível continuar em clima tão quente com tal fadiga de guardas e outros inconvenientes (que não eram poucos), e além disso não há outros refrescos a não ser alimentos em conserva e salgados; 5º Havendo tido em quatro dias mais de 200 baixas, entre mortos, feridos e doentes, as tropas naturalmente enfraqueceram. For essas e outras razões, o conselho de guerra julgou que o melhor seria retirarem-se em tempo e procurarem a sua salvação em outro lugar. Em virtude dessa resolução, no dia 10, de manhã muito cedo, o engenheiro mandou levantar um cômodo reduto, a fim de fazer a retirada e para que o inimigo não percebesse e embaraçasse o nosso projeto.Também o coronel e os outros oficiais acharam conveniente atacar, às 11 horas da noite, as obras externas do inimigo com seis companhias, e. se fosse possível, expulsá-lo dali, pois não sendo dia, o forte estaria fechado, e isso para abater o ânimo do inimigo e facilitar a retirada.As companhias mandadas para essa empresa foram as do major Redinchoven, do capitão Meppelen, Cloppenburgh, Schenck, Bijma e Coeck, formando duas divisões. Com as suas companhias, o major Redinchoven, Meppelen e Coeck marcharam encobertos por detrás do acampamento, em direção ao bosque, para caírem em cima do inimigo por outro ponto do rio; atravessando o mato, encontraram algumas cabanas, cavalos selados e vários portugueses, os quais foram repelidos para as suas trincheiras. O major Berster, com as companhias