História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 38

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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Chegando no outro dia à vizinhança da Bahia da Traição, viram os nossos um navio português, que estava lá dentro, e para ali se dirigiram com a intenção de capturá-lo; mas tiveram de desistir do intento, pois os portugueses haviam construído duas baterias junto à praia. Continuando a navegar à vista de terra, ancoraram no dia 15 à tarde, a 2 léguas de distância do Rio Grande.No dia seguinte fizeram-se mais ao mar, por não haver profundidade suficiente perto da costa; mandaram, todavia, a chalupa continuar costeando, e esta, voltando no dia 17 a juntar-se-lhes, contou que havia passado por entre os baixios de S. Roque, os quais julgavam começar no Rio Grande; no princípio a sonda denunciou apenas 2 1/2 braças, mas depois sempre 4 e 5. Haviam incendiado uma caravela carregada de vinho. No ponto da reunião dos dois barcos achava-se a expedição a 10 ou 11 léguas além do Rio Grande, e a costa extendia-se de noroeste para suleste.Continuando a navegar ao longo da costa, encontraram, 7, 6, 5 e 4 braças mais ou menos, e ancoraram à tarde a cerca de 21 léguas do Rio Grande, junto a um lugar chamado Uberanduba. No dia seguinte foram desembarcados a seu pedido os índios Marcial. Andries Tacon, Ararova e Francisco Matauwe, que seguiram para onde estavam os Tapuias, a falar com eles.O commandeur Smient, tendo estado em terra e não encontrando nenhum ancoradouro, fez-se à vela no dia 23 para oeste e voltou para onde estava o navio no dia 30 de Outubro; estivera bem umas 16 léguas para oeste e todavia não vira as Salinas nem gente alguma, apesar de haver estado em dois rios. No dia 3 de novembro partiu o commandeur Smient com a sua chalupa, mas logo voltou a juntar-se ao navio.A tripulação do Nieuw-Nederlandt fez uma excursão ao cabo de Uberanduba, com grande fadiga e perigo, por entre os rochedos, mas só encontrou ali salsa marinha e outras ervas; a cerca de um tiro de mosquete da praia, há grandes dunas brancas, e por detrás delas algumas palmeirinhas bravas e uma baixada com bem uma légua de extensão e cheia de água salgada; também viu ali algum gado, porcos do mato e veados.Avistou em terra, mais adiante duas ou quatro fogueiras, e para lá se dirigiu e encontrou o nosso índio Andries Tacon e mais oito índios robustos e 17 pessoas, entre mulheres e crianças, as quais estavam sendo levadas para o Rio Grande por um português de nome João Pereira, que foi morto, apossando-se a tripulação das cartas que ele tinha consigo e trazendo-as. Como nessas mesmas cartas vinha narrada a situação em que se achava o Ceará, a pedido dos índios resolveu-se que o navio e a chalupa fossem ao Recife relatar todos os sucessos.O navio partiu de Uberanduba no dia 18 de Novembro, navegou ao longo da costa cerca de seis léguas, na maior parte a 5 e 4 1/2 braças de água, quando chegou a um cabo despido de vegetação, havia apenas 3 1/2 braças de fundo, e quanto mais aproava para o mar, tanto mais raso ficava, e, vendo arrebentação a cerca de três léguas de terra, ancorou a 2 1/2 braças.Mal sabiam como achar uma saída, pois havia bancos de areia por todos os lados e quanto mais perto de terra mais fundo. Todavia, no dia 20, começando novamente a navegar, aproximaram-se de terra, indo a chalupa na frente,