verbalmente o Conselho do estado daquela praça. Declarou que havia 16 companhias, mas cada uma tinha apenas 30 ou 40 homens, e uma de milícias; que a vila era tão grande como o Recife e situada a três léguas do mar; que na foz do rio havia um forte sem obras externas, com um fosso seco ainda em obras, e guarnecido com 25 canhões e duas companhias de soldados; que perto dali não havia boa água, mas a meia légua de distância havia-a excelente; que havia outro fortim no rio, mas sem importância; e que, para se ir à cidade sem ser incomodado pelo forte, se devia seguir pela mata uma légua de distância, por um caminho tão largo, que podem passar por ele três homens em fila, sendo, entretanto, necessário atravessar um riacho pantanoso da largura de um tiro de pistola; que ao redor da cidade não havia redutos, mas as entradas do rio para a cidade estavam defendidas com três fortificações, tendo a do meio 9, a cutra 6 e a terceira 4 canhões; que havia 40 ou 50 cavaleiros; que em um grande armazém possuíam quantidade de açúcar capaz de carregar uns seis ou sete navios e que aguardavam uma esquadra espanhola para o despachar; que se podia chegar sem dano algum, depois de passar o forte situado à foz do rio.Quando retiraram da cidade de Olinda tudo quanto podia servir e ser transportado e removeram a bagagem dos oficiais e dos soldados, o tenente-coronel ordenou que as tropas se aprontassem para mudar de acampamento. No dia 24 de Novembro, pela manhã, o chefe da equipagem foi do Recife para a cidade, com archotes alcatroados e outros meios incendiários e mandou atear fogo às casas, sendo tudo devorado pelas chamas. O inimigo, que conjecturara logo qual era o projeto dos nossos pela retirada dos tetos e por outras circunstâncias e vendo agora que iam executá-lo, estacionou alguns dias ao redor, e, mal a nossa gente saíra, entrou, esperando surpreender alguns retardatários ou hostilizar a retaguarda; mas os nossos marcharam em tão boa ordem, que o inimigo não teve coragem de atacá-los. Abandonada a cidade de Olinda e retirada a guarnição o que até agora impedia que se empreendesse noutra parte qualquer coisa contra o inimigo, o conselho começou imediatamente a deliberar seriamente, no dia 26, sobre o que se devia fazer da gente que não era precisa à guarnição das fortificações.A assembléia dos XIX, ainda nas suas últimas cartas, que foram lidas para esse fim no conselho, ordenava com insistência que fizessem o possível para desalojar Albuquerque do seu arraial, situado tão perto das nossas fortificações, ou que por todos os meios se apoderassem da Paraíba, pois os do próprio conselho e outros oficiais expunham de tal fôrma a situação, que não julgavam a empresa tão difícil. Só restava agora resolver qual dos dois projetos (visto que deviam satisfazer aos superiores) podiam realizar mais facilmente. Os principais do exército, sendo consultados, declararam que bater e desalojar o inimigo do Arraial, o que antes fora considerado muito difícil, agora era quase impossível, pois aquele se achava atualmente provido de todo o necessário e fora reforçado, havia pouco tempo, por muitos veteranos experimentados.A conquista do forte da Paraíba não julgavam pudesse ser vantajosa à companhia, mas antes prejudicial, pois, apoderando-se daquela praça, estariam situados numa ponta de areia, sem refresco algum e como que separados da
História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 38
Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional