História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 38

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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comandantes e um grande número de marinheiro, bem providos de pás e picaretas; do forte Frederick Henderick tomou o caminho para o sul guiado por um índio prisioneiro, e, passando três pequenos rios, chegou finalmente a Afogados. Encontraram ali um entrincheiramento junto ao rio, com a frente muito alta e sólida, provida em cima e em baixo de fortes paliçadas, mas aberto por detrás caíram tão de improviso sobre o inimigo, que este, ao avistar os nossos, após pequena resistência, abandonou a praça e fugiu, deixando 40 mortos, que foram contados pelos nossos, e levando muitos feridos, tendo quebrado e atirado fora todas as armas, tanto mosquetes como piques, bem como incendiado algumas casas. O inimigo, nesse ínterim, sendo avisado da nossa presença e tendo dado alarme aos da planície, voltou com grande força não só do Real, como de outros pontos, para nos repelir; pelo que o coronel se pôs em retirada a tempo e em boa ordem, levando 10 prisioneiros. Os portugueses voltaram imediatamente para a sua fortificação e fizeram uma valente carga, quando os nossos passaram o rio, mas sem dano sensível. No mesmo dia o yacht Ouwerkerck chegou ao porto do Recife, trazendo um navio carregado com vinho, capturado a 6o ao norte da linha.Entre os prisioneiros trazidos de Afogados, estava um Pedro Alves, oleiro de profissão, nascido na ilha da Madeira, mas residindo no país havia uns 30 anos. Por seu intermédio souberam o seguinte: a fortificação, em que os nossos tinham estado havia pouco, chamava-se Afogados, nome do rio que lhe passa junto e geralmente ocupada por 150 homens; cerca de um quarto de hora mais longe, havia um outro lugar chamado Pirange onde a maior parte do tempo se achavam 90 a 100 homens. Também disse que Pedro da Cunha de Andrade, depois de Albuquerque, era quem maior autoridade tinha sobre as tropas; que podiam levantar um exército de 4.000 homens, na maior parte brancos; usavam poucos mosquetes, a maioria tinha fuzis, não lhes faltando munições ou materiais, pois recentemente haviam chegado seis caravelas com recursos. Os nossos tinham desde o princípio prestado atenção a uma nação de índios, chamados Tapuias, e julgaram conveniente utilizar-se do auxílio dela contra os portugueses, de quem esses selvagens guardavam ódio, sendo por eles muito temidos. Tendo-lhes isso chegado ao conhecimento pela leitura de várias cartas dos portugueses, da metrópole lembraram essa conveniência ao Conselho Político, o qual, tomando o fato em consideração, mandou no dia 23 um índio atrair a referida nação, que habitava na vizinhança do Rio Grande oferecer-lhe a nossa amizade e pedir o seu auxílio. Além do hornaveque do forte de Frederick Henderick foi planejado um mais leve e começaram a fazê-lo, assim como mandaram arrasar um montículo situado a sudoeste do mesmo forte. O general Pater, tendo sabido pelo yacht Rotterdam que duas caravelas com destino a Goa estavam perto da costa do Brasil, partiu com os navios Zutphen, Amsterdã, Hollandia, Oliphant, Griffoen, Dordrecht ou Sphoera Mundi e o yacht Rotterdam, para procurá-las; e, depois de buscá-las por toda parte sem as avistar e tendo descabido até perto da ilha de Fernando de Noronha sem ter notícias delas, voltou no dia 3 de Agosto para o Recife. A vila do Recife achava-se até agora aberta do lado do rio, não obstante se poder passar o mesmo na vazante com água pelo joelho. Para fortificar melhor esse lugar e não precisar de tanta