História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 38

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

Página 205


quase pela cintura. Achando-se no outro lado, marcharam quase uma pequena légua por um caminho muito difícil e estreito e quase todo cheio de arbustos e pântanos, encontrando tudo diferente do que lhes fora informado, e, chegando perto da cidade e do forte, o qual estava situado numa altura muito íngreme, encontraram um mangue alagado, pelo qual não era possível passar.O tenente-coronel, tendo examinado tudo isso, ficou muito perplexo. O inimigo, nesse ínterim, atirava furiosamente da fortaleza com mosquetes e canhões carregados de metralha, ferindo gravemente a alguns dos nossos.Vendo que por esse lado da fortaleza nada podia tentar com vantagem, resolveu, de acordo com todos os capitães, voltar ao rio ou canal e acampar lá à noite e no dia seguinte tentar atacar o inimigo por outro caminho. O almirante, depois da gente ter desembarcado, mandou os yachts Ter-Veere, Kate, Rave e a chalupa até acima da cidadezinha, e colocou dois botes de guarda para impedir que o inimigo atravessasse de um lado para o outro e que com a vazante descessem brulotes postos na corrente contra os grandes navios surtos em frente ao canal a 4 braças de água.No dia 24, ao alvorecer, foram mandados pelo tenente-coronel o capitão Pierre le Grand com a sua companhia de fuzileiros e o capitão Artichau com alguma gente mais, em parte para procurarem outro caminho para a cidade, mas o seu fim principal era tomar de improviso alguns prisioneiros, dos quais se obtivessem maiores informações. Voltaram ao acampamento ao meio dia e trouxeram presos três portugueses e cinco negros, tanto homens como mulheres, os quais, sendo interrogados, declararam que Albuquerque mandara um reforço de 700 ou 800 homens para a fortaleza, que esta estava cercada de pântanos e mangues, e que antes existiam 300 soldados portugueses e 16 canhões de ferro; que Albuquerque também mandara muitos índios; e que havia 14 dias tinham partido dali um navio e duas caravelas. Os capitães disseram ter visto outros caminhos, mas inconvenientes para se tentar por eles qualquer Coisa contra a fortaleza.Por este motivo foi despachado um bote para comunicar essas circunstâncias ao Governador do Recife.O coronel e o almirante com duas chalupas a remo foram passar pela fortaleza do inimigo (a qual disparou contra eles quatro tiros, que não lhes causaram dano) para verem se daquele lado existia alguma passagem melhor para o forte; notaram que o monte estava bem entrincheirado na base e não oferecia possibilidade alguma de ser escalado.Depois de meio dia veio de bordo dos navios uma turma de marinheiros para cavar um fosso ao redor do acampamento. Enquanto estavam ocupados nesse trabalho mandaram os botes subir pelo canal entre a ilha e o continente para explorarem toda a situação por ali, e reconheceram que o inimigo estava muito forte em Iguassú.O conselheiro político Johan van Walbeeck veio do Recife ter com eles.No dia 26 o capitão Artichau subiu com um engenheiro pelo canal e passou pela fortaleza, encontrando um ponto melhor para atacar o inimigo; mas o coronel não achou conveniente fazer coisa alguma antes de se haver comunicado com o Governador e com o Conselho e resolveu despachar uma outra chalupa para o Recife.