História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 38

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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provisões, especialmente o vinho, começavam a faltar, e o commandeur, para não se separar deles antes do tempo, ia tomando as provisões, uma vez ou outra, dos navios que tinham vindo mais recentemente da República, para emprestá-las aos outros. Daí surgiu entre a tripulação uma certa má vontade, e finalmente os do próprio navio do commandeur não quiseram mais cedê-las, ainda que tivessem ordem; de sorte que, aborrecido, ele abandonou o seu navio e passou-se para o do vice -commandeur. Receando que rebentasse finalmente uma insurreição geral em toda a esquadra, resolveu, de acordo com o Conselho de guerra, regressar à pátria, justamente na época em que se devia esperar maior número de navios espanhóis de todos os lados. Navegaram pelo canal de Brahma e seguiram diretamente para a República, onde chegaram no mês de Agosto, trazendo para a Companhia pouca Coisa com que compensar tão grandes despesas feitas com a esquadra.Voltemos agora ao Brasil e prossigamos a narração do que lá se passou no corrente ano. No princípio do mês de Janeiro chegaram com feliz viagem os navios Voghel Struys, de Groningen, e Walcheren, da Zelândia, com viveres, munições e juntamente uma companhia de soldados com 110 homens. O inimigo, que estava constantemente vigiando os nossos, preparou uma emboscada no dia 3 e, quando os mosqueteiros saíram do Recife, atacou-os, sendo, contudo repelido para o outro lado do rio. Os nossos tiveram apenas 3 mortos; o inimigo deixou 6 na praia, além dos que levou consigo e dos que se afogaram, Quatro dias depois repetiu-se o ataque, mas com a perda dos nossos, pois o inimigo se pôs em emboscada e. quando o comboio saiu para buscar alguns refrescos, foi atacado tão de improviso, que os nossos, tomados de surpresa, abandonaram as armas e deixaram atrás poucos mortos, refugiando-se na cidade.O almirante Marten Thijsz, que saíra para cruzar na costa no dia 25 do ano passado, voltou no dia 11 deste mês, trazendo uma barca carregada de 82 caixas de açúcar, e que fora capturada por uma chalupa num riozinho.No dia 14 chegou o navio Amersfoort de Amsterdã, conduzindo 54 soldados e os necessários recursos. Três dias depois chegou mais uma caravela, carregada de farinha e óleo, e que fora tomada ao inimigo pelos cruzadores.No mesmo mês chegaram o navio 't Landt van Beloften, o Zeenwsche Jagher e o pequeno Galeon, trazendo 200 soldados. Nesse ínterim, como viessem ordens da Metrópole determinando ao Governador e ao Conselho que conservassem a cidade e não a abandonassem, custasse o que custasse, eles resolveram mandar examinar com maior escrúpulo, por todos os engenheiros, construtores e oficiais entendidos em fortificações, a situação da mesma. Saindo da cidade, mediram muito rigorosamente toda a circunferência, observaram todas as circunstâncias e juntamente a planta do que se devia fortificar, tomando notas sobre as condições do terreno e dos lugares vantajosos ou não; e, finalmente, considerando o número de tropas, o tempo, as despesas e outras exigências necessárias para uma tal fortificação, opinaram por unanimidade que saíria ela excessivamente cara à Companhia e que seria de difícil conservação.O resultado dos trabalhos dessa comissão foi comunicado pelo governo