História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636. Vol 33

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

Página 82


No dia 1º de Agosto veio ter com os nossos um índio de Pau Amarelo, por mar, numa jangada, o qual nos contou que haviam chegado a Itamaracá duas caravelas com munições e lambem chegara um capitão, que declarou que ainda vinham 20 navios com tropas. No dia 4 entraram no porto do Recife os navios Gelderlandt e Bruyn-visch, carregados com viveres e trazendo 56 soldados recrutas. De noite saiu o tenente coronel Seton com um contingente de tropas e foi a um lugar entre a cidade o Recife e ali demoliu e arrasou uma meia lua e o parapeito de pranchas que o inimigo construirá, enchendo o espaço com terra para hostilizar os nossos comboios da cidade para o Recife.No dia 6 pela manhã o inimigo voltou e apanhou as pranchas e outras cousas, que jaziam na praia, para reconstruir o sou parapeito, que havíamos destruído, mas, surgindo-lhe pela frente o nosso comboio, novamente, atravessou ele o rio, perseguido pelos nossos fuzileiros e foi rechaçado para o mato, deixando no campo ires mortos e havendo os nossos arrasado a obra começada.No dia 9 o mesmo índio a que me referi veio ter outra vez com os nossos e contou que uma tribo da sua nação estava disposta a vir juntar-se-lhes pedindo que mandassem um comboio ao Rio Doce pela praia para os trazer, e ao mesmo tempo referiu que os índios estavam um tanto receosos de vir, porque ainda se lembravam de que os haviam os nossos abandonado, ha anos, na Baia da Traição, depois de haverem eles demonstrado por fatos a inclinação pela nossa amizade.No dia seguinte pela manhã partiu um comboio da cidade para o Recife com 250 homens e os do Recife vieram ao seu encontro com igual número.O inimigo (que parece ter sido advertido por algum traidor) estava do emboscada no outro lado do rio com uma força que se presumiu ser de 2.000 homens e começou uma escaramuça, mas os nossos fuzileiros atravessaram o rio, expelindo-o dos seus redutos e demolindo as suas obras. O grosso da força inimiga conservou-se escondido no bosque, de sorte que os nossos durante cerca de duas horas sem interrupção, alvejavam os pontos donde saía a fumaça e, se não fosse a enchente do rio, que crescera muito devido á tempestade no mar, os nossos teriam abandonado a luta. Mas, como cada vez o rio enchesse mais, tiveram de o atravessar e era mais que tempo, pois a maré subira tanto que a água lhes dava pelo pescoço e alguns correram o risco de se afogar. Nessa peleja morreram apenas três dos nossos e houve sete feridos. Quantos perdeu o inimigo não se soube ao certo, acreditando-se contudo que não fossem poucos. No dia seguinte observaram os nossos que o inimigo prosseguia nos trabalhos no lugar em que haviam sido demolidas as trincheiras.No dia 15 chegaram os navios Haes de Hoorn e Meerminne de Amsterdam, nos quais vieram 60 ou 70 soldados, alem de viveres e munições, do mesmo modo que no Rotterdam no dia 17.No dia 19, assim que pararam os trabalhos, toda a gente saiu do Recife e de Antônio Vaz para ir buscar estacas, deixando apenas, como havia sido