parapeito, puseram fogo na porta do forte e outros subiram para as baterias. Os nossos, devido á grande chuva, não podiam ascender as mechas, contudo quatro se colocaram á frente da porta e resistiram tão bravamente com piques e outras armas que os do inimigo foram obrigados a retroceder. Abandonavam na fuga muitos saquinhos de pólvora, meias, sapatos e chapéus furados a bala e na retirada foram alvejados pelos canhões dos nossos de sorte, que é de crer que tivessem muitos mortos o feridos. Os nossos mosqueteiros aventuravam-se quase todas as noites, já ao amanhecer, a sair da cidade, mas em parte alguma encontravam gente. Assim o inimigo tratou de nos evitar e ao mesmo tempo os Índios (como se soube pelos desertores) se internaram pelo país e muitos moradores os acompanharam.No 1º de Julho chegou o Overijssel e trouxe um navio que apresara na latitude de 14 graus ao sul da linha e no qual havia 280 negros, homens, mulheres e crianças. Soube-se no dia seguinte por um negro, vindo da Paraíba que ali haviam chegado de Portugal, 7 caravelas. No dia 3 o inimigo atravessou o rio em direção ao Recife com uma numerosa força e, amontoando toda a madeira que com tanto trabalho os nossos haviam levado para ali, ateou-lhe fogo.Na noite seguinte projetou fazer o mesmo com um telheiro de madeira, que fora ali feito para a proteção dos trabalhadores, mas foi saudado por uma pequena peça, que sem demora o fez bater em retirada.Nos dias seguintes fez muito mau tempo, borrasca e chuva, mas nem assim o inimigo deixou de fazer vários assaltos, tanto ao Recife como á ilha de Antônio Vaz, ainda que sem proveito algum.No dia 17 a noite veio novamente o inimigo pelo rio e deu vigoroso ataque ao novo forte com bombas e outros meios, mas foi saudado de tal forma que teve de se retirar depressa deixando no campo um morto, percebendo-se, pelo sangue que se via no lugar das obras e por toda a praia, que havia carregado consigo alguns outros. O Conselho via-se muito embaraçado com as negras que ultimamente haviam sido trazidas, não só porque, sem prestar serviço, consumiam viveres, como pela licenciosidade a que se entregavam os soldados, razões pelas quais resolveu no dia 22 manda-las com os portugueses, que as haviam trazido de Angola, para o interior e ali desembaraçar-se delas. Mas logo que 120 saíram pela margem da ilha de Antônio Vaz, os Índios do inimigo atacariam-nas e mataram a um dos portugueses que as acompanhava e a 5 ou 6 dessas pobres criaturas, de sorte que trataram de regressar para o forte com os filhos nos braços. Uma força nossa, que estava emboscada não muito longe dali, julgando que era o inimigo que se aproximava, atirou sobre elas, metendo-as assim entre dois fogos. Apesar de tudo conseguiram entrar no nosso acampamento.O governador Wardenburgh, achando que os mosquetes pelas continuas chuvas do inverno se tornavam inúteis, julgou conveniente formar uma companhia de fuzileiros com os dois regimentos que estavam na cidade. Viu-se nesse dia que vários dos nossos soldados franceses desertavam, como já haviam feito antes, e era por eles que o inimigo sabia da nossa situação.
História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636. Vol 33
Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional