História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636. Vol 33

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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preces para dar graças a Deus pelo que se havia passado e rogar-lhe a benção e proteção no futuro.Antes de descrevermos o que ali se passou posteriormente, será conveniente que digamos um pouco da situação e grandeza da Capitania de Pernambuco. É realmente uma das maiores que se encontram em todo o Brasil, pois se estende para o sul até o rio S. Francisco, pelo qual é separada da Capitania da Bahia de Todos os Santos, e para o norte até a Capitania de Itamaracá, contando entre esses limites cerca de 90 léguas ao longo da costa. O seu donatário no tempo da nossa chegada era Dom Duarte d'Albuquerque, residente em Portugal e casado com uma filha do Conde de Basto, e mandara para governar em seu nome o seu irmão Dom Matias d'Albuquerque, homem de cerca de 36 anos de idade. Este desembarcara havia quatro meses em Porto Calvo, com 70 soldados e viera para Olinda algum tempo antes do nosso ataque á cidade. Os portugueses possuíam nesta Capitania 11 lugares povoados, dos quais o primeiro e mais importante era Olinda, situada a cerca de 8 graus de latitude ao sul do equador. Essa cidade se achava bem colocada na costa do Atlântico e apresentava um belo e risonho aspeto do lado do mar. No ponto mais elevado da cidade ficava o convênio dos Jesuítas, belo e bem edificado, dispondo de rendas importantes, muitos prédios, torras e animais por todo o interior do país; achando-se também sob o seu domínio maior parte dos índios dessa região governados a seu bel prazer. Havia também na cidade um convento de Capuchinhos e perto da prata um grande convento de Dominicanos e um pouco acima deste o convento chamado de S. Bento, grande e bem edificado e mais acima destes um de freiras denominado Nossa Senhora da Conceição. Em todos esses conventos podiam existir pouco mais ou menos 130 eclesiásticos. A matriz da cidade chamava-se S. Salvador e era muito bem construída. Uma segunda matriz se chamava S. Pedro. Perto dessas havia ainda uma igreja que se chamava Misericórdia, situada junto ao hospital, no meio da cidade, e um pouco mais abaixo havia ainda uma igreja de Nossa. Senhora do Amparo e não longe havia outra chamada Nossa Senhora de Guadalupe e num alto monte junto á cidade a. de Nossa Senhora do Monte e finalmente a três ou quatro tiros de fuzil para fora da cidade havia uma pequena igreja chamada Sto. Amaro. A cidade tinha trincheiras do lado da praia desde S. Francisco até por traz de S. Bento, mas não as possuía do lado de terra. Os habitantes (excetuando os padres e frades) elevavam-se, entre moços e velhos, a cerca de 2.000, entrando nesse número três companhias de burgueses de 120, de 100 e de 80 praças. Havia ali também ordinariamente 3 companhias de soldados, cada uma das quais devia ter 100 praças e naquele tempo mal contava 80. Entre os burgueses havia mais de 200 negociantes abastados, cujas fortunas eram avaliadas umas em 20, outras em 30 e algumas em 50 mil cruzados.Ao sul da cidade, entre o rio Beberibe e o mar. estende-se urna estreita península, em cuja ponta está uma povoação chamada Recife, onde fazem o embarque e o desembarque de todas as mercadorias e onde habitava muita gente. Perto do meio dessa nesga de terra, que tem quase uma légua de