História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636. Vol 33

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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em colocar gente de guarda contra os ataques, do inimigo que estava fora da cidade. Os habitantes de Olinda não desobedeceram às ordens do governador Matias. de Albuquerque, isto é, de levarem os seus valores quando saíssem, de modo que foram apenas encontradas 200 caixas de açúcar, algumas de vinho e varias mercadorias, que não puderam levar consigo. Os soldados em grande desordem revolveram tudo e fizeram grande estrago antes que fosse possível impedi-lo. No dia seguinte pela manhã, cerca de uma hora antes de amanhecer, o governador Matias de Albuquerque pôs fogo no Recife a todos os armazéns cheios de açúcar e de outras mercadorias. Assim fez em parte, porque; queria vingar-se dos habitantes da cidade que se escaparam (contra a sua ordem) com os seus haveres, deixando por esse modo a cidade indefesa, e mais ainda por não poder defender aquelas mercadorias, o que é fácil de compreender privando dessa maneira os nossos do maior fruto de sua Vitória. Afirmam como certo que por meio desse incêndio foram destruídas umas 17 mil caixas de açúcar uma grande partida de pau-brasil o outras mercadorias, ainda que a opinião dos portugueses variasse muito sobre isso calculando uns o prejuízo cm mais e outros em menos. Também foram incendiados cerca do 20 navios e barcos. O capitão português Gil Corrêa de Castelo Branco, numa carta dirigida ao rei fazia montar a importância do dano a 2 milhões de ducados. O inimigo mantinha-se nesse ínterim de posse dos seus fortes de terra e do mar.O General, o almirante e o vice-almirante entraram nessa manhã na cidade e foi dada ordem do apagar o fogo que os negros haviam ateado a algumas casas. Esses negros sob a aparência de amizade praticavam grandes excessos e roubavam muitos objetos de valor, de sorte que pareceu melhor conservar apenas um pequeno número deles, necessário para o serviço, e expulsar os demais da cidade, para a livrar daquela inútil quadrilha.Ao mesmo tempo, como o inimigo se mostrasse aqui e ali nas cercanias da cidade, julgou-se necessário guardar com sentinelas todas as entradas, mas estas eram tantas e a cidade tão grande e deserta (era realmente muito difícil ocupar imediatamente todas as colunas e alturas que ficavam sujeitas umas ás outras quanto á defesa militar), que foi julgado impossível guarnece-las todas e fortificar a praça rigorosamente, pelo que foi considerado melhor retirar a nossa força das eminências da cidade, cortar ou obstruir os caminhos e deixarem aberto a parte baixa. Executou-se isso sem demora e, como a gente estivesse ainda muito fatigada, nada mais se empreendeu nesse dia contra o inimigo. No dia seguinte foram todos os doentes trazidos para terra para se refrescar e á noite o tenente-coronel Steyn Calenfels partiu com o engenheiro Comersteyn e uns quatro mosqueteiros para fazer o reconhecimento do forte do inimigo, situado na península do Recife, entre a cidade e a aldeia do porto. No outro dia foi aberta a Alfândega da cidade, encontrando-se muitas munições, a saber: pólvora, mechas, chumbo e outras provisões e juntamente linho. No dia 20 o tenente-coronel Steyn Calenfels foi encarregado de assaltar com 600 homens o forte de terra