História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636. Vol 33

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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de descarregar os seus canhões de proa sobre a almiranta espanhola, veio para o lado da nossa almiranta o largou o ferro e foi soltando tanto o cabo que a popa veio a encostar na vice-almiranta já abordada. Uma parte da gente do Fortuyn , passando-se para a nossa almiranta, escalou a vice-almiranta com tal bravura e força que os espanhóis perdendo o ânimo começaram a fugir. Dos 300 homens da. guarnição, metade jazia morta e os restantes lançaram-se ao mar e procuravam salvar-se nadando, mas a maior parte morreu afogada. O Kater , o Eendracht e o Vriessche Jagher lançaram os ferros ao lado da almiranta espanhola e fizeram-lhe vivo fogo com seus canhões. Os espanhóis. vendo o que ocorrera com a sua vice-almiranta, não ousaram aguardar a vinda da nossa gente e grande número deles atirou-se ao mar, tratando de salvar a vida..Os nossos tripularam os botes e dirigiram-se para lá, encontrando ainda cerca de 50 homens, que no princípio fizeram alguma resistência, mas perderam depressa o animo e procuraram escapar-se. O Governador de Havana mandara antes duas fragatas cheias de tropas para auxiliar os navios, mas o Kater portou-se tão valentemente que tiveram de voltar para Havana. Assim os nossos se apossaram finalmente dos dois navios espanhóis. A almiranta chamava-se Nossa Senhora dos Remédios , montada com oito canhões de bronze e 12 de ferro, e a vice-almiranta, Santiago , provida de quatro canhões de bronze e 10 de ferro. Tinha cada um desses navios quase 300 homens, devido aos grandes reforços que os espanhóis de Havana lhes haviam mandado, antes do ataque pela nossa gente. Nos nossos navios houve apenas 12 ou 13 mortos e cerca de 50 feridos, a maior parte pertencente ao Leeuwinne , que sustentara tão forte refrega, como narramos antes.Achando-se os navios capturados encalhados em um dos lugares mais perigosos desta região, estando os nossos fundeados tão perto da costa, podendo sobrevir com muita facilidade uma tempestade e começando a fazer água os navios capturados, tratou-se com a maior atividade possível de os porá nado e também ao Leeuwinne .Contudo, não se podendo conseguir isso, cuidou-se de safar um depois do outro e de passar a carga para os nossos navios.O Leeuwinne flutuou no dia 3 e logo depois a nau almiranta espanhola, mas a vice-almiranta estava tão enterrada, que apesar de todos os meios empregados não se pode safar.Entretanto, como já havia uns cinco pés de água no porão e os couros nela mergulhados começavam a desprender tão mau cheiro que se não podia chegar perto, abandonou-se o navio ateando-se-lhe fogo depois de se retirar o que era aproveitável. A esquadra da Terra Firme era esperada a qualquer momento e os nossos reconhecendo-se muito fracos para a enfrentar, o almiranta achou conveniente não perder mais tempo ali e ser mais prudente partir, contentando-se com o esbulho que já tinha em seu poder.No dia 4 de Agosto à noite fizeram-se à vela. O navio Walcheren rebocou a almiranta espanhola e o Fortuyn , o Leeuwinne . Ao amanhecer, devido à calmaria a forte correnteza haviam descaído até a entrada do porto de