estes, mesmo as barbas dos contrários, e em que muito lhes pesasse, safos e retirados para fora do rio sem receber detrimento, por se prenderem nos couros e ressaltarem as balas de mosquete. Este expediente foi um belo achado devido certamente ao engenho do bravo lobo do mar Pieter Pietersz. Heyn. Ele mesmo ficou ainda esta noite no rio com o iate Vos, que juntamente com o navio Pinas dera em seco de maré cheia; mas, como esta vazava, se empregaram os nossos a noite toda em alijar o lastro, e a seguinte manhã, na conjuntura da enchente, safaram-se sem dano, saíram do rio, e se juntaram com a frota. A 18 de Junho todos os navios se afastaram, e foram surgir defronte da cidade de S. Salvador fora do alcance da artilharia inimiga. Soube-se por dois trânsfugas que naqueles dias o inimigo perdera no rio pouco menos de quatrocentos homens, uns afogados e outros mortos pelos nossos. Permaneceu pois a nossa frota, a despeito do inimigo, surta na baía, ocupando-se os nossos em descarregar os navios tomados e baldear os gêneros e mercadorias para os seus. A 22 juntou-se à frota o iate Tracer, que com outros iates fora expedido da Republica para cruzar nas costas do Brasil. À noite dois navios portugueses foram ter diante da cidade, sem serem sentidos dos nossos. A 2 de Julho entraram o navio Son e o iate Post-paerdt com um batel, os quais partiram da Zelândia ao mando do Commandeur Joost Banckert: haviam cruzado algum tempo diante do Rio de Janeiro. A 4 entrou o iate Eenhoorn, que havia cruzado diante de Pernambuco. A 9 se tornaram a incorporar com a frota o Goude-Leeuw e a caravela, que, não estando em estado de ser levada à Republica, tiraram-lhe quanto podia servir, e a desmantelaram. A 13 chegou ainda aquele porto o iate Rave. A 14 toda a frota largou da Baía, depois de soltos todos os prisioneiros portugueses; vento sul e sussudeste. O Commandeur Banckert ficou na costa com alguns iates.A 27 a frota lançou ferro na ilha Fernão Noronha em dezesseis e dezessete braças, fundo de areia. Esta ilha demora aos 3° 34' é banda do sul, apartada cousa de setenta léguas da costa do Brasil. Querendo tomá-la partindo de dita costa, caminhai ao nordeste por amor das correntes, e ide então buscá-la em sua altura. Quando se chega a avistá-la, à vista se representa como uma torre ou vela, porque tem um pico ou monte escarpado, que se deixa ver primeiro que qualquer outra terra. Em vos chegando mais à ilha, vereis outro monte ao oeste do anterior, que também não semelha mal ao longe uma igreja com sua torre; depois avistareis mais três colinas, e enfim toda a mais terra. O remate nordeste se faz em quatro ou cinco ilhotas, arredadas entre si, ora mais ora menos de um tiro de arcabuz; por entre elas porém não podem passar navios por serem as águas pouco profundas. Da banda oriental sai um recife, que entra dois terços de légua pelo mar, sobre o qual este cresce e ferve, por ser formado o dito recife de pedras sobre-aguadas. Querendo aportar nesta ilha, lhe dareis volta por leste, e sendo pela banda do noroeste, governareis ao norte até vos por a leste daquela penha cm forma de torre em distancia de um tiro de colubrina, e lançareis então ferro em dezesseis ou dezessete braças, fundo de areia, a obra de um tiro de canhão da praia, pois mais
História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30
Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional