História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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perto dela o fundo é sujo, e rói os cabos. Na terra fronteira ao surgidouro há boa água fresca, que deriva das montanhas, particularmente nos meses chuvosos de Abril a Setembro, si bem que a mesma água, pela natureza do solo, tenha sabor algum tanto salitroso. Nas águas daquelas ilhotas fraturadas abundam os pargos e outros peixes; há copia de pássaros marinhos e rolas; encontram-se também bodes e cabras, que os Espanhóis introduziram na ilha. Aqui refez-se a frota: apanharam os nossos algumas cabras, e encheram de água os seus barris. A 8 de Agosto se tornaram a juntar à frota a vice-almiranta, o Oragnie-Boom e o Arendt, que haviam cruzado diante do Rio da Prata, mas não fizeram presa alguma, e como passaram muitas tormentas e tempestades, separaram-se muitas vezes uns dos outros, e não tornaram mais a ver o iate Sparwer. A 11 levantou-se o almirante com sua frota, que recolheu-se prazenteira à pátria no ultimo dia de Outubro; os vasos que então a compunham, eram o Hollandia, Geldria, Zutphen. Pinas. Rare de Amsterdam, Neptunus da Câmara da Mosa. Goude-Leeuw e o iate vos da Câmara de Groninga. A 15 de Agosto, em altura de: 35° à banda do sul, tomaram mais um pequeno navio procedente de Pernambuco com carga de açúcar, tabaco e madeira da mesma capitania. A 21, estando a frota em calmaria, tiraram deste naviozinho oitenta caixas de açúcar e uma porção de tabaco, e continuando a descarregá-lo, ficou de todo vazio no dia 26.Até ao presente temos dado razão do que fizeram as nossas frotas e navios, que foram despachados o ano passado; passamos agora a escrever daqueles que partiram este ano de 1627. Começaremos pelos três navios que a Câmara de Zelândia armou, os quais são: Ter-Vere do porte de noventa lastos, artilhado com quatorze colubrinas e seis pedreiros, tripulado por setenta e três marinheiros, tendo por almirante e capitão Hendrick Jacobsz. Lucifer, valente lobo do mar; Leeuwinne (Leoa), cem lastos, quatorze colubrinas e seis pedreiros, sessenta e nove marinheiros, capitão Jan Pietersz, também vice-almirante desta flotilha: e o Vlieghenden Draeck, (Dragão Alado), quarenta e cinco lastos, oito colubrinas, e seis pedreiros, e quarenta e dois homens, capitão Galeyn van Stapels. Estes navios partiram de Flessinga a 22 de Janeiro do corrente ano de 27, e adiantaram-se tanto que, tendo passado pelas Canárias e navegado de longo da costa de África, a 3 de Março houveram vista das terras baixas do cabo do Norte do afamado rio das Amazonas. Como aquelas regiões estavam no forte do inverno, foram incomodados por muitas chuvas e ventos. Ao outro dia escorreram a costa pela derrota do nornoroeste debaixo de chuva e forte trovoada, de modo que ora avistavam terra, ora perdiam a vista dela. A 5 fundearam em quatro braças de água, a obra de duas léguas de Comaribo. Ao seguinte dia seguiram para o rio Wiapoco, onde estava o almirante incumbido de desembarcar alguns colonos. A 7 surgiram diante de Caribote em três braças, e de maré vazia encalharam os navios. E porque os selvagens, que moravam nas vizinhanças, não viessem a bordo, mandaram duas chalupas a Comaribo para transportarem aos navios alguns deles, que guiassem os nossos aos mais moradores; de feito ao outro dia trouxeram dois. Tornando a subir o rio nas chalupas, chegaram os