História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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por não terem instrumento algum para este efeito, senão também por acudir gente a praia. O nosso barcozinho tomou outro, em que se achavam alguns Portugueses e negros, que sobre a noite foram levados a bordo da almiranta. Muito a ponto foram apresentados estes prisioneiros ao almirante, pois soube por eles que cinco ou seis navios carregados estavam um pouco mais acima no rio metidos em uma angra ( Kreecke ), e logo ordenou que os iates Amsterdam e David com todos os bateis subissem o rio, e investigassem quanto possível fosse aquela pequena angra. Justamente no começo do rio encontraram os dois iates um navio grosso, mas estava vazio e sem os seus tripulantes que o haviam abandonado; os nossos o esbulharam e o deixaram ali ficar. Tendo os dos bateis e fragata ( Fregatte ) subido o rio mais uma meia légua, descobriram os navios dos Portugueses; estavam estes ocupados em toa-los para cima para o efeito de os esconder à nossa gente. Em se aproximando os nossos, entraram os inimigos a fazer vivo fogo de artilharia e mosquetes de ditos navios, pelo que não ousaram os nossos abordá-los nem deles se acercar, e voltaram aos navios para contar ao almirante o que haviam achado. Ao outro dia ordenou o almirante que o Pinas, o iate Vos e a fragata com uma porção de bateis bem tripulados tornassem a subir o rio. Sendo chegados os nossos onde os bateis deixaram na véspera os navios contrários, já os não encontraram, pois os inimigos, empregando todas as suas forças, conseguiram levá-los para cima. Foram os nossos traz os navios contrários, e depois do meio-dia os do barco e bateis se acercaram deles. Tornaram os Portugueses a atirar furiosamente de ditos navios, particularmente da sua vice-almiranta, com mosquetes e artilharia carregada de metralha, pois, informado o Governador da Baía dos intentos do almirante, mandara para ali cento e cinqüenta soldados ao mando do capitão Padilha, o mesmo que assassinara o mui nobre e bravo senhor Van Dorth. Esta gente defendeu-se bravamente, e tal resistência opôs dos navios, que os nossos não ousaram abordá-los, e sem duvida teriam voltado costas sem haver feito cousa alguma, si o almirante Pieter Pietersz. Heyn, que passara ao iate Vos e se juntara com eles, os não impelisse quase a força contra os Portugueses; deram pois os nossos sobre estes com tal fúria e pressa, que se fizeram senhores do navio, e mataram quantos nele eram, menos dois ou três grumetes. Calcularam em canto e cinqüenta homens a perda do inimigo nos perdemos somente doze ou treze. Como isto vissem os Portugueses dos outros navios, se lançaram os mais deles ao rio, procurando assim salvar as vidas, pelo que apoderaram-se os nossos de mais dois navios, a saber, da almiranta deles, que aguardava quatrocentas e cinqüenta caixas de açúcar e uma porção de tabaco, e de uma caravela grande carregada de quatrocentas caixas de açúcar e algumas de tabaco. A vice-almiranta continha todo o gênero de mercadorias em fardos, pois havia chegado recentemente de Portugal. Mais acima na mesma angra achavam-se mais dois ou três navios; a angra porém já era ali tão estreita, que se podiam arrancar de um e outro lado as folhas das arvores, que se levantavam nas margens, e como, além disso, as águas cresciam em dito lugar com a enchente seguramente duas braças, sucedia ficarem os navios quase