História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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fazendas foram distribuídas pelos navios. Como a caravela era boa e forte, o almirante a conservou, e meteu, gente nela. Foram os iates providos por cinco meses de mantimentos tirados dos navios grossos. Tendo o almirante feito tudo o que aqui tencionava fazer, a 29 mandou por em terra todos os seus prisioneiros portugueses, e saiu do rio com sua frota, e se foi pela derrota do nordeste quarta a leste, servido do vento sudeste.Querendo entrar neste rio, atender às seguintes indicações. Do lado meridional da baía vereis três ilhetas, que semelham parceis grandes, não mui altos, e pô-las-eis a bombordo, e navegareis ao longo delas; na mais ocidental vereis três pedras, que parecem galeões; passadas estas ilhetas, governareis ao noroeste quarta a oeste, e então dareis fé de um baixo, sobre o qual o mar se alteia muito, e passareis avante, deixando este baixo a estibordo; tendo avançado algum tanto, logo vereis a abertura do rio, que se prolonga para oeste; vereis também na boca do rio alguns parceis, dos quais um ou mais se acham sempre descobertos e à vista acima da água; estes parceis estão arredados cousa de meio tiro de mosquete da ponta do sul, navegareis por junto deles, isto é, tomando-os pelo norte, e quanto mais perto navegardes, maior fundo encontrareis; passados os parceis, governareis para a margem meridional, e não tendes de que vos temer, que em qualquer parte o fundo é de boa tença, e nau encontrareis profundidade menor de três braças e meia. Neste rio a lua ao rumo do nordeste e sudoeste ocasiona marés vivas.No ultimo dia do mês de Março dividiu o almirante a sua frota em três esquadras: a primeira compunha-se dos iates Oragnie-Boom, Arendt e Sparwer, a qual foi posta a cargo do vice-almirante e enviada ao rio da Prata; a segunda compunha-se do Goude Leeuw, iate Rare e da caravela tomada diante do Espírito Santo, e foi mandada cruzar diante do Rio de Janeiro; a terceira, cujo chefe era o mesmo almirante, contava os navios Geldria, Zutphen, Pinas, Neptunus, e os iates Vos, Amsterdam, David e o barco com as duas velas ré. Este se fez na volta do norte, e de noite passou pelos Abrolhos por vinte e seis braças de água. A 9 de Junho, tendo avistado terra ao norte da baía de Todos os Santos, deu volta e caminhou ao sul. Ao outro dia estava à carão da mesma baía, e nela entrou, navegando um pedaço além da cidade: em rosto desta poucos navios havia, somente os que o almirante ali deixara da outra vez. Passou além do forte sito em Tapagipe, e como visse surtos dois navios do inimigo, deu fundo, e ordenou que fossem ao seu navio todos os bateis bem tripulados. Vogaram estes em seguida para os navios contrários, que estavam encalhados na praia; os nossos os saquearam, e lhes puseram fogo, e a despeito do inimigo foram buscar em terra algumas tábuas, e as levaram aos navios. Como o almirante muito desejava haver novas de terra, mandou que os iates Vos e Amsterdam juntamente com o barco fossem vigiar as pequenas embarcações, que passavam de um para outro lado; estes iates, tendo-se adiantado algum tanto, impeliram contra a praia um dos tais barcozinhos, cujos tripulantes fugiram para terra antes que a nossa chalupa chegasse junto da presa, da qual recolheram os nossos dez ou doze rolos de tabaco, mas não assim seis ou sete caixas de açúcar, que carregava, não só