porto, além de que os tempos rigorosos, que encontrara, haviam espalhado os seus navios; estes porém se tornaram a juntar no dia 28. Ao outro dia o almirante mandou a todos os capitães de navio suas ordens por escrito, isto é, que como fossem quatorze ou quinze léguas largo de terra, se apartassem uns dos outros, mas de modo que pudessem avistar os navios, e que então pairassem, a ver se tornavam a descobrir a outra vela que desaparecera no dia 26 pois pela tripulação da que fora tomada, sabia que saíra do Rio de Janeiro, e carregava seguramente quatrocentas caixas de açúcar; mas esta diligencia foi em vão, e subindo a pouco e pouco os navios, no ultimo dia do mês de Abril achou-se a frota perto do cabo Frio, que lhe ficava ao norte quarta a nordeste em distancia de cinco léguas pouco mais ou menos. Ao outro dia houveram vista da ilha de Santa Anna, que distava da frota obra de nove léguas; ao meio-dia altura de 23° 36'. A 5 de Maio altura de 20° 53'; achava-se a frota bastante afastada de terra, que à vista se representava também mui grossa. Depois de haver o almirante reunido na capitania o conselho secreto, a quem comunicou o seu desígnio, governou a frota ao rumo do oessudoeste, atravessando para a costa para o efeito de entrar no rio do Espírito Santo, onde buscaria refrescos para a companhia. Ao romper do seguinte dia, não estava a frota longe do dito rio, e puderam os nossos avistar o convento de Nossa Senhora da Penha; mas como estavam em calma, e o vento saltava de um para outro ponto do horizonte, com que a frota mais perdia que cobrava caminho, lançou esta à noite ancoras ao mar, ficando surta em vinte e uma braças. De manhã não estava alongada do rio, mas este ainda não se havia aberto. Passou-se o almirante ao iate Vos, e com os mais iates pequenos seguiu adiante para bem reconhecer o rio, ficando os navios a barlavento, os quais, quando o almirante fez o sinal, que foi um tiro, seguiram para o dito rio, e nele entraram, deixando os iates a estibordo. O navio do almirante, bem como outros, bateu no fundo, mas não houve perigo, porque o rio, que corre fazendo sinuosidades, dentro é morto. Ao outro dia melhoraram os navios um pouco mais para dentro do porto, podendo assim verem os nossos a povoação e o fortim adjacente, e ali surgiram. O Goude-Leeuw e o Vos entraram ainda mais pelo rio acima; como si fossem tentar algum cometimento contra a povoação; mas tal não era a tenção do almirante, que simplesmente queria trazer o inimigo entretido lá em cima, enquanto os nossos desembarcavam em um vale, onde abundavam os limoeiros e laranjeiras. Mandou o almirante que colhessem boa porção dos frutos destas arvores. Como era perigoso fazerem aguada na terra firme por causa dos selvagens, que disparavam suas setas de dentro do mato, cavaram os nossos poços nas ilhetas que ha neste rio, e com a água deles encheram seus barris, que estavam vazios. No dia 18 os da povoação largaram contra a frota algumas balsas de fogo, feitas de ramos e chamiços, mas não receberam os navios nenhum detrimento delas, pois os nossos as apagaram facilmente. Este mesmo dia demandou a barra uma caravela, procedente de Lisboa, com carregamento de setenta pipas de vinho e alguns fardos, e caiu em nosso poder. Veio muito a ponto esta tomadia; as pipas de vinho e
História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30
Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional