História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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impossível por a nado o seu navio, que já muita gente fora morta a seu bordo, encravou-lhe a artilharia grossa, e levando o que pode, pôs-lhe fogo e o abandonou; passou-se para o navio Walcheren, que era a vice-almiranta da frota. Apesar de ter sido crespa e duradoura a briga, das pessoas principais do nosso lado só morreu Jan Christiaensz., capitão do Geldria ; uma bala de mosquete varou o braço esquerdo do almirante, e um estilhaço feriu-o na cana da perna; o vice-almirante foi ferido por uma bala de mosquete debaixo das falsas costelas; em toda a frota morreram quarenta ou cinqüenta homens.Os navios tomados foram postos no meio da frota fora do alcance da artilharia inimiga, e as suas cargas baldeadas para dois deles que eram os maiores, isto é, para o que fora vice-almiranta portuguesa, navio de Stralsund do porte de trezentos lastos, artilhado com dezoito pequenos canhões de metal fundido, e para um navio hamburguês do porte de trezentos e cinqüenta lastos, armado com dezesseis colubrinas. Embarcaram os gêneros destinados à Republica nos seguintes navios: no navio Pedro de Stralsund mil cento e doze caixas de açúcar, trinta e duas caixas, dezesseis pipas, e duas barricas ( oxhoofden ) de tabaco, mil cento e vinte e cinco couros, vinte e um sacos de algodão, além de algumas jóias de ouro, prata lavrada, e seiscentas e sessenta e três piastras; no navio Hope seiscentas e quarenta e quatro caixas de açúcar, vinte e três caixas, uma pipa e uma barrica de tabaco, alguns couros, e uma porção de pau santo; no navio Nossa Senhora da Victoria quatrocentas e oito caixas de açúcar, uma porção de tabaco e pau-santo; no Swart-Leeuw quatrocentas e cinqüenta caixas de açúcar, e algumas de tabaco. Estes navios chegaram a salvamento à Republica no mês de Julho.Foi este feito um dos mais heróicos que o almirante Pieter Pietersz. Heyn praticou em serviço da Companhia das Índias Ocidentais, e seu bom êxito foi parte para que a Companhia, mui enfraquecida com os danos e revezes passados, começasse a respirar, e viesse a cobrar as forças; mas nau se pagou somente disto o almirante, como vamos contar.A 9 de Março pelo fim da tarde teve ordem de sair Pieter Stoffelsz., capitão do Neptunus e sota-almirante da frota, com o Vos, Sparwer, Rave , e um barco mui veleiro tornado aos Espanhóis, para cruzar diante da Baía de vigia aos navios, que de mar em fora a viessem demandar, pois bem via o almirante que o inimigo faria por avisar os navios que buscassem terra. Ao seguinte dia mandou o almirante perguntar ao Governador si queria resgatar os negros apresados, mas o governador não os quis, e deu uma resposta mui arrogante. A 11 tomaram os nossos mais um navio, que, sem dar com o perigo, entrou na Baía; vinha de Angola carregando negros. Embaraçado o almirante com tantos negros, pois não os podia empregar em cousa alguma útil, fê-los meter todos em um navio, e mandou desembarcá-los na ilha, que está em rosto da Baía. O Pinas também foi mandado sair para cruzar algumas léguas ao sul da Baía, sendo encomendado a seu capitão que se tornasse ao cabo de oito dias. A 14 entrou mais um pequeno navio com negros, mas como os de seu bordo entendessem o perigo em que se meteram, se foram refugiar cm uma enseadasinha que fica debaixo do forte de Santo Antonio, onde os