impossível por a nado o seu navio, que já muita gente fora morta a seu bordo, encravou-lhe a artilharia grossa, e levando o que pode, pôs-lhe fogo e o abandonou; passou-se para o navio Walcheren, que era a vice-almiranta da frota. Apesar de ter sido crespa e duradoura a briga, das pessoas principais do nosso lado só morreu Jan Christiaensz., capitão do Geldria ; uma bala de mosquete varou o braço esquerdo do almirante, e um estilhaço feriu-o na cana da perna; o vice-almirante foi ferido por uma bala de mosquete debaixo das falsas costelas; em toda a frota morreram quarenta ou cinqüenta homens.Os navios tomados foram postos no meio da frota fora do alcance da artilharia inimiga, e as suas cargas baldeadas para dois deles que eram os maiores, isto é, para o que fora vice-almiranta portuguesa, navio de Stralsund do porte de trezentos lastos, artilhado com dezoito pequenos canhões de metal fundido, e para um navio hamburguês do porte de trezentos e cinqüenta lastos, armado com dezesseis colubrinas. Embarcaram os gêneros destinados à Republica nos seguintes navios: no navio Pedro de Stralsund mil cento e doze caixas de açúcar, trinta e duas caixas, dezesseis pipas, e duas barricas ( oxhoofden ) de tabaco, mil cento e vinte e cinco couros, vinte e um sacos de algodão, além de algumas jóias de ouro, prata lavrada, e seiscentas e sessenta e três piastras; no navio Hope seiscentas e quarenta e quatro caixas de açúcar, vinte e três caixas, uma pipa e uma barrica de tabaco, alguns couros, e uma porção de pau santo; no navio Nossa Senhora da Victoria quatrocentas e oito caixas de açúcar, uma porção de tabaco e pau-santo; no Swart-Leeuw quatrocentas e cinqüenta caixas de açúcar, e algumas de tabaco. Estes navios chegaram a salvamento à Republica no mês de Julho.Foi este feito um dos mais heróicos que o almirante Pieter Pietersz. Heyn praticou em serviço da Companhia das Índias Ocidentais, e seu bom êxito foi parte para que a Companhia, mui enfraquecida com os danos e revezes passados, começasse a respirar, e viesse a cobrar as forças; mas nau se pagou somente disto o almirante, como vamos contar.A 9 de Março pelo fim da tarde teve ordem de sair Pieter Stoffelsz., capitão do Neptunus e sota-almirante da frota, com o Vos, Sparwer, Rave , e um barco mui veleiro tornado aos Espanhóis, para cruzar diante da Baía de vigia aos navios, que de mar em fora a viessem demandar, pois bem via o almirante que o inimigo faria por avisar os navios que buscassem terra. Ao seguinte dia mandou o almirante perguntar ao Governador si queria resgatar os negros apresados, mas o governador não os quis, e deu uma resposta mui arrogante. A 11 tomaram os nossos mais um navio, que, sem dar com o perigo, entrou na Baía; vinha de Angola carregando negros. Embaraçado o almirante com tantos negros, pois não os podia empregar em cousa alguma útil, fê-los meter todos em um navio, e mandou desembarcá-los na ilha, que está em rosto da Baía. O Pinas também foi mandado sair para cruzar algumas léguas ao sul da Baía, sendo encomendado a seu capitão que se tornasse ao cabo de oito dias. A 14 entrou mais um pequeno navio com negros, mas como os de seu bordo entendessem o perigo em que se meteram, se foram refugiar cm uma enseadasinha que fica debaixo do forte de Santo Antonio, onde os
História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30
Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional