aprestou o navio Goode Leeuwe (Leão de ouro), duzentos e cinqüenta lastos, duas peças de bronze e vinte e seis de ferro, cento e dezenove marinheiros, e setenta e um soldados, capitão Hendrick Best; o iate Vos , setenta lastos, dezesseis colubrinas, oitenta homens, capitão Jan de Braem. Compunha-se pois esta frota de nove navios grossos e cinco iates, o que não era uma grande força naval para, por si só, pôr em efeito a empresa a que particularmente foi mandada, mas junta com a do general Boudewijn Hendricksz., que andava no mar, seria em estado de poder fazer rosto a toda a armada de Espanha.O iate Vos foi mandado diante a 11 de Abril para procurar a armada do general, e avisá-lo como esta outra seguiria brevemente. Faremos primeiro breve relação da viagem deste iate. O mês de Abril estava quase findo primeiro que o Vos , pelos tempos contrários, transpusesse o canal; porem depois teve tal avanço, que, sendo a 27 de Abril ainda junto do cabo Lisard, a 28 de Maio havia vista da ilha Dominica, uma das Caraíbas. Como reinavam enfermidades entre a tripulação, o capitão deu fundo em dita ilha para haver refrescos dos selvagens, como houve no primeiro dia, ainda que poucos; mas no segundo dia mostraram eles sua má índole, ferindo três dos nossos homens, e maior dano houveram feito, si a nossa gente não desse sobre eles com os seus mosquetes. A 30, passando por Guadalupe, o capitão veio à fala com dois navios franceses, que em Matinino e Santa Luzia perderam alguns vinte homens, surpreendidos e mortos pelos selvagens; sirva isto de escarmento para que tratem com muito resguardo essa canalha selvagem e má, e não saiam em terra senão bem armados, e sendo em terra, andem de sobreaviso. Passou depois o capitão por Neves e S. Christovão, e na altura desta ilha soube por um pirata francês que o general estivera, dois meses atrás, na ilha de S. Vicente, o que não era verdade. A 2 de Junho chegou à banda meridional da ilha de Santa Cruz, mas, por respeito dos parceis e penhascos, que demoram ao longo de toda esta parte de dita ilha, não pôde achar porto algum. Daqui foi ter a Saona, e não encontrando nesta ilha nenhum sinal dita frota, nem água, de que andava necessitado, mui penosamente andou a bordejar para trás em demanda de Mona. Esteve no remate ocidental de Porto Rico, onde houve um pouco de água, bem como em Mona, e resolveu atravessar para a terra firme a ver si colhia alguma notícia da frota. A 19 de Junho partiu de Mona. A 23 avistou a ilha das Aves, e deu as velas para a terra firme, e ainda à tardinha deste mesmo dia foi perto dela, obra de seis ou sete léguas ao oeste de Caracas, onde avistou terras mui altas e talhadas a pique, e montes cujos picos atravessavam as nuvens. Trabalhou por deitar caminho para leste bordejando; mandou à terra uma chalupa bem armada; os seus tripulantes encontraram um rio, por onde entraram um pedaço, e viram que ele tem de largo na boca bem um tiro de colubrina; demora cousa de seis léguas ao oeste de Caracas. A 25 era o capitão a carão de Caracas; avistou seis navios, que estavam surtos ao abrigo do forte. Como caiu em calmaria, se viu obrigado a dar fundo em cinqüenta braças, que si o não fizera, seria impelido até ao alcance da
História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30
Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional