História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

Página 122


com sapatos e quinquilharias; estavam nele vinte espanhóis. Tiraram os gêneros e os tripulantes e puseram fogo ao barco. Pelos prisioneiros nada souberam da armada que se esperava. Durante todo este tempo andaram os nossos mui ocupados em procurar água; encontraram um formoso arroio, cujas águas não eram de todo doces, mas força foi contentarem-se com elas em falta de melhores. O general, deliberado a sair, mandou sondar a barra, e por duas canoas, por entre as quais passassem os navios; estes saíram a 19 sem sofrer dano algum. Fora da barra encontrou quatro dos iates, os quais pela manhã haviam tomado mais um barcozinho espanhol carregado de tartarugas. As águas corriam ao presente para leste, com que sobre a tarde a frota foi ter diante de Havana e tão perto dela, que se podiam ver facilmente os navios surtos no porto. Os iates acercaram-se tanto do castelo de S. Christovão, que deste fizeram fogo contra eles. Segundo asseveram os Espanhóis, este castelo, que se levanta na ponta oriental da barra, monta alguns sessenta canhões, e igual numero o outro, que lhe é fronteiro e se levanta mais baixo, o que não é crível; todavia compreende-se que os navios, que quiserem forçar a entrada, correrão grão perigo. Ao outro dia era a frota um pouco a este de Havana. O general ordenou que por aqui se conservassem dois ou três iates, e mandou outros tantos para oeste, que estanciariam até ao porto Marien e mais longe, para andar de vigia aos navios que viessem de mar em fora, e ele em pessoa seguiu com os seus navios grossos e alguns iates, e passou por diante dos castelos, cada um dos quais o salvou com tiros. Parece que os Espanhóis receavam que a nossa frota entrasse no porto, pois puseram sete navios e alguns barcos uns atrás dos outros defronte da barra. Como a frota estava ao presente acercada de terra, foram colhidas as velas, e mareando as velas de ré, singrou com proa ao norte. Ao outro dia tornou a acercar-se da barra ; e assim esteve a pairar por ali, com bom tempo. Assim estanciando a frota, a 23 as chalupas do Draeck e West-cappel tomaram um naviozinho espanhol procedente de Campeche, com carga de sal, milho, peixe, algumas poucas mercadorias, dinheiro, e algumas mil e duzentas galinhas; levava também oito passageiros, era tripulado por doze marinheiros, por quem souberam que nem em Campeche nem na Nova Espanha havia notícia da nossa armada.A 26 começou o general a sentir-se incomodado, ao seguinte dia ardia em febre; e como esta se mantivesse, tendo ele dado as suas ordens sobre as cousas da frota desde o começo de sua moléstia, quando veio aos dias de Julho, descansou no repouso eterno, deixando nome de chefe avisado e de bravo e intrépido marinheiro. O geral dos seus choraram o seu passamento. Morte foi esta muito nociva à Companhia: como a frota estava assaz desfalecida de viveres, e especialmente alguns navios, que já anteriormente tiveram de suprir com os mantimentos de outros, desde muito andava a companhia pouco desejosa de permanecer no mar por mais tempo, mas continha essas suas mas disposições pelo respeito que impunha o general. Tanto que este morreu, e que segundo sua vontade o pavilhão do almirante foi levantado pelo vice-almirante Adriaen Claesz, e passou a vice almirante o